De 25 Novembro a 24 Janeiro 2016
O fotógrafo francês Edmond Fortier (1862-1928) viveu a maior parte da vida em Dakar, no Senegal. Ele produziu cerca de 4000 imagens da África do Oeste no início do século XX. Uma seleção dessas fotografias estará em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, entre 25 de novembro de 2015 e 25 de janeiro de 2016, na maior exposição dedicada ao fotógrafo já realizada, Edmond Fortier - Viagem a Timbuktu. Na noite de abertura da mostra haverá o lançamento do livro homônimo (Editora Literart), da historiadora Daniela Moreau, cuja pesquisa deu origem à exposição.
A obra fotográfica de Edmond Fortier, de qualidade excepcional, ainda é pouco conhecida na Europa e na África. Uma historiadora brasileira, especializada no estudo da África (Daniela é consultora do programa “Sem Fronteiras” da Globonews, para o qual deu diversas entrevistas) realizou um trabalho pioneiro: reuniu toda a obra de Fortier, que agora pode ser conhecida pelo público.
Viagem a Timbuktu concentra-se em um recorte notável da produção de Fortier, reunindo 200 fotografias da viagem de mais de cinco mil quilômetros que ele realizou pelo interior do continente africano no ano de 1906, em uma época em que a imposição dos regimes coloniais na África ainda era relativamente recente. O ponto culminante do trajeto foi a cidade histórica de Timbuktu, porta do Saara (na região Norte do atual Mali), à época considerada misteriosa e impenetrável pelos europeus. “Ele foi um dos primeiros profissionais a fotografar a cidade, após a ocupação francesa em 1894. Djenné, nas margens do rio Bani, a cidade mais antiga de toda a África subsaariana, também foi objeto de seus registros. As imagens conhecidas desse itinerário são testemunho único da época", salienta Daniela.
Edmond Fortier começou a trabalhar como fotógrafo no Senegal no fim do século XIX, fazendo retratos da elite africana e dos colonos europeus. Era o tempo das cartes-de-visite, uma moda que marcou época, inclusive no Brasil. Fazer retratos para cartes-de-visite era o ganha-pão de milhares de fotógrafos ao redor do mundo. No início do século XX, a febre do momento mudou e passou a ser os cartões-postais. Milhões de cartões-postais com fotografias de todos os lugares do globo eram impressos a cada ano. Circulavam como correspondência e eram colecionados em álbuns pelas famílias.
Foi esse novo filão no mercado das fotografias – os chamados cartões-postais ilustrados – o que permitiu o sustento de Edmond Fortier por quase três décadas. Ele publicava todos os anos novas séries de cartões-postais e vendia-os aos turistas (já que na época todos os navios que ligavam a Europa à América do Sul faziam escala em Dakar) e aos colonos europeus em sua pequena loja junto ao porto da cidade. Apesar do seu sucesso comercial, as fotografias de Edmond Fortier acabaram por ficar esquecidas já que os negativos nunca foram encontrados.
Hoje, mais de 100 anos após terem sido registradas, essas imagens da África do Oeste constituem um verdadeiro patrimônio cultural a ser resgatado e conhecido. Os cartões-postais retratam o cotidiano da vida de pessoas comuns, as paisagens e festas populares. Fortier documentou o que logo em seguida desapareceria para sempre, como as ruínas da antiga mesquita de Djenné, e o que estava em seus momentos iniciais, como os modernos aspectos urbanos de Bamako e de Conakry, capitais do Mali e da Guiné. Suas fotografias tiveram um importante papel na construção do imaginário sobre o “outro” africano. Ele produziu, entre outros gêneros, inúmeros retratos de moças africanas com os seios nus, o que representava o exótico e agradava os fregueses europeus. As transformações intensas e violentas marcados pela penetração e pela presença cada vez maior do colonizador europeu na África do Oeste também foram captadas pelas lentes de Edmond Fortier.
"Fortier não era militar, missionário ou exportador, ocupações de grande parte dos europeus presentes no Senegal no início do século XX. Ele era um estrangeiro que optou por viver na África como fotógrafo. E os cartões postais criados e vendidos por ele eram seu trabalho. Viajante infatigável percorreu, entre 1900 e 1912, uma grande extensão do Oeste africano, visitando 100 localidade de sete países hoje conhecidos como Senegal, Guiné Conakry, Mauritânia, Mali, Costa do Marfim, Benim e Nigéria", revela Daniela Moreau, autora do livro.
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