16 de março a 06 de maio de 2018
O Instituto Tomie Ohtake criou em 2013 o Arte Atual, uma plataforma para pesquisas artísticas, de caráter experimental, na qual, por meio de uma questão sugerida pelo seu Núcleo de Pesquisa e Curadoria, coordenado por Paulo Miyada, um grupo de artistas convidado desenvolve um novo trabalho. A partir das obras de Adriano Costa, Arjan Martins e Juliana Cerqueira Leite, os curadores propõem questionar as urgências do tempo presente e seu apego à própria descartabilidade. “Em uma época que resiste a planejar seu futuro ou a conhecer seu passado, talvez seja o momento de questionar a fugacidade do que se propaga ao redor: e se nada – nenhum produto, nenhum corpo, nenhuma história – for tratado como descartável? ”, analisa Miyada.
Em suas obras, o paulistano Adriano Costa lança mão de objetos e imagens banais hoje produzidos, consumidos e supostamente esquecidos, para, como aponta a curadoria, recombiná-los até a lógica dos produtos fraturar o fazer artístico e vice-versa. “Até o ponto em que se possa perceber que os artefatos, imagens e ideias mais avançados na cadeia produtiva atual são materiais do presente e podem ser já a memorabilia das ruínas que existirão no futuro”.
Já o carioca Arjan Martins, em sua pintura, reconfigura valores de ícones já capturados por narrativas fáceis de consumir e símbolos de grande circulação social, especialmente relativos à história da colonização do Brasil e às visões e versões sobre a imigração e a escravidão africanas. “Em cartografias pintadas, procura, por exemplo, o avesso do papel heroico atribuído às caravelas e outros baluartes do projeto colonial, ao mesmo tempo em que se questiona a constante representação de imigrantes como alquebrados subalternos”. Miyada acrescenta: “sabendo ainda que, assim como a tinta sobre a tela, todo esforço crítico tende a escorrer no regime vigente de consumo de todo tipo de imagem”.
Por sua vez, Juliana Cerqueira Leite, artista nascida em Chicago e que atualmente reside em Nova York, faz do próprio corpo molde, motor e matriz. Peças desse corpo esculpidas constroem uma ponte entre a obra e a identidade desse mesmo corpo. De acordo com a curadoria, a artista imprime sequências de movimento e empilhamentos de gestos em esculturas que, por um lado, vão além do reconhecimento de sua anatomia e, por outro, dependem do confronto físico direto com a resistência e plasticidade da matéria que molda sobre si: a ação não exprime uma ideia, mas imprime posições.
“Com estratégias tão diversas, esses três artistas arriscam-se a colocar-se em rota de colisão com o presente, não para capturá-lo ou vencê-lo, mas para deixar-se fraturar com seu empuxo e, assim, criar rastros para sua voracidade”, completa Miyada.
Adriano Costa (São Paulo, 1975) vive e trabalha em São Paulo. É representado pela galeria Mendes Wood DM. Graduado em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, recentemente, participou de mostras coletivas inclui, como: Neither, Mendes Wood DM Bruxelas (2017), Kiti Ka’ Aeté, The Modern Institute, Glasgow, Escócia (2015), Draw flying Penis/Pussy Against Gentrification, White Cubicle Toilet Gallery, Londres, RU (2015), Imagine Brazil, DHC/Art Foundation for Contemporary Art, Montreal, Canadá (2015/2016) e Under the same sun, Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, EUA (2014). Dentre suas exposições individuais recentes estão: StorytellingCaipira Supportico Lopez, Berlin, Alemanha (2016), Every Camel Tells A Story, Mendes Wood DM, São Paulo, SP (2015/2016), La Commedia dell’Arte, Peep-Hole, Milão, Itália (2014), Touch me I am geometrically sensitive, Sadie Coles HQ, Londres, RU (2014) e From My Body Comes, Through Your Body Goes, Zabludowicz Collection, Londres, RU (2014).
Arjan Martins (Rio de Janeiro, 1960) vive e trabalha no Rio de Janeiro. È representado pela galeria A Gentil Carioca. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage com Paulo Sérgio Duarte, Fernando Cocchiarale e Charles Watson, para citar alguns. Em 2002, realizou sua primeira exposição individual, Desenhos, no Museu da República e, ao longo dos anos realizou individuais como, Américas (MAM-RJ, 2014), Et Cetera (A Gentil Carioca, 2016) e O Estrangeiro (Stiftung Brasilea na Suíça, 2017). Participou de várias exposições coletivas, como Arte Brasileira Hoje (MAM-RJ, 2005), Novas Aquisições (MAM-RJ, 2004) Abre Alas na galeria A Gentil Carioca (2009), Do Valongo à Favela (MAR Rio, 2014) e, recentemente, EX AFRICA (CCBB, 2017). Participou da Bienal de Dakar, em 2006.
Juliana Cerqueira Leite (Chicago, 1981) vive e trabalha em Nova York. É representada pela Casa Triângulo. É formada em Artes pela Chelsea College of Art and Design de Londres e possui mestrado em Desenho (Camberwell College of Arts, Londres) e Escultura (Slade School of Fine Arts, Londres). Esteve presente em mostras coletivas, como Antarctica (57ª Bienal de Veneza, Pavilhão da Antártica, 2017), 5ª Bienal de Moscou (2016) e 3ª Bienal de Vancouver. Realizou exposições individuais tanto no Brasil, Posicional (Casa Triângulo, 2013), quanto no exterior, como Intransitive (Regina Rex, Nova York, 2016). Participou de residências artísticas no Brasil, Estados Unidos, Canadá e Marrocos. Além de seu trabalho como artista, atua como curadora em diversos projetos.