O Instituto Italiano di Cultura de São Paulo e o Instituto Tomie Ohtake, por ocasião do Ano da Itália na América Latina, trazem ao Brasil Olhar em Movimento – Linguagens da arte cinética italiana dos anos 1950-70. Com curadoria de Massimo Scaringella e Micol Di Verolli, a exposição, inédita no Brasil, reúne 50 obras compostas por pinturas, colagens, vídeos, esculturas, objetos e peças de roupa concebidos por grandes nomes da arte óptica e cinética italiana, entre os quais Bruno Munari, Getulio Alviani e Marina Apollonio.
Como ressalta uma das curadoras da mostra, Micol Di Veroli, na arte cinética o movimento é fundamental e pode ser real, obtido por efeitos de luz com a ajuda de aparatos mecânicos, ou ilusórios e ópticos: “o trabalho deve estimular a percepção visual, torná-la ativa e, no lugar de um artista romântico irracional e instintivo, na arte cinética ele é antes de tudo um trabalhador cultural, que se articula com engenheiros e cientistas, um ativista político que sabe combinar a arte com a sociedade”. Para Di Veroli, ainda, “a arte cinética se auto impõe o rigor de fazer na esfera criativa um contato analítico e disciplinado da arte, que procura reunir arte, ciência, sociedade, artista e público”.
Parte dos participantes da exposição notabilizou-se no que, na Itália, chamou-se de “Arte Programmata”, e que consiste em um conjunto de trabalhos de um grupo de artistas italianos, ativos entre o final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, que produziu obras dirigidas mecanicamente em uma série de sequências programadas, pautadas por padrões bem definidos. Criada por Bruno Munari e explicitada por Umberto Eco em seu texto no Almanacco Letterario Bompiani, de 1961, a denominação "Arte Programmata" surge na exposição promovida pelo showroom Olivetti em Milão, no ano de 1962.
Olhar em Movimento – Linguagens da arte cinética italiana dos anos 1950-70 reúne obras de Bruno Munari, o precursor das pesquisas sobre a percepção e indiscutível ponto de referência do design e da didática; Getulio Alviani, artista que, ao desenvolver as premissas teóricas e práticas da Bauhaus, promoveu inovações artísticas a partir da ciência; Marina Apollonio, uma das figuras da Itália mais representativas do movimento ótico-cinético internacional, que destaca-se por utilizar materiais industriais modernos para criar estruturas calculadas que, diante do espectador, se transformam em espaços dinâmicos e flutuantes; Gruppo T (Davide Boriani, Gabriele De Vecchi, Giovanni Anceschi, Gianni Colombo, Gracia Varisco), autor da Miriorama 1 (1959), declaração considerada uma plataforma teórica e um manifesto técnico cujas palavras-chave são tempo-espaço, transformação, variação e participação; Gruppo N (Alberto Biasi, Edoardo Landi, Toni Costa, Ennio Chiggio e Manfredo Massironi), coletivo interessado em explorar possibilidades ópticas para serem aplicadas nas obras de arte e que, coletivamente, concebia trabalhos que lidavam com o jogo da percepção de ilusões ópticas; Gruppo 63 (Lucia Di Luciano, Lia Drei, Francesco Guerrieri e Giovanni Pizzo), que teve Umberto Eco como um de seus fundadores, composto por intelectuais italianos que se contrapõem ao conservadorismo cultural ao buscarem a renovação da linguagem literária e trazerem à tona temas relacionados com a realidade econômica da sociedade da época e, particularmente na arte, realizar pesquisas que partem de explorações de ordem lógico-matemática; e Grupo MID (Barrese Antonio). A mostra exibe ainda 10 vestidos do estilista Fausto Sarli que revelam ao público as conexões entre arte e moda nas décadas em questão.