Nesta individual de Paulo Pasta, o curador do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada selecionou treze pinturas produzidas nos últimos treze anos que refletem o arsenal pictórico do celebrado artista paulista. Projeto e Destino é a primeira exposição que reúne um conjunto de suas pinturas de dimensões quase arquitetônicas (2,4 metros de altura por 3 metros de comprimento). De acordo com o curador, também convergem nesta seleção de trabalhos: o campo da pintura seccionado em segmentos amplos e de contorno regular, quase sempre ortogonal; as linhas definidas entre os blocos de cor que se assemelham a esquemas de cruzes, pórticos, pilares, telhados e vigas; a variação cromática combinada entre 3 a 6 matizes por tela, todas com valores tonais similares.
Mas foi em um dos ensaios mais conhecidos do historiador italiano Giulio Carlo Argan, Projeto e Destino, de 1964, que Miyada foi buscar nova reflexão sobre a obra de Pasta. Como ele aponta, Argan colecionava sinais alarmantes de que a própria historicidade da civilização poderia estar à beira de seu final, quando seria substituída por uma vida pós-histórica, sem consciência de seu passado e sem construção de futuro. O historiador questionava ainda a relevância que a arte poderia ter nesse cenário. Para o curador, Pasta não pretende ser portador dessa resolução, mas ressalta que, em sua prática artística, o pintor criou fundações justamente no cerne do impasse sobre qual pode ser o lugar da arte.
“Sua pintura existe no tenso limiar entre, por um lado, um possível desejo de religar uma parcela dos legados da história e, por outro, experimentar a invenção de algo novo”. Miyada, destaca que, porém, exista aí um paradoxo impossível de resolver (ou, pelo menos, é impossível que um artista sozinho a resolva). “Se a obra artística aderir integralmente ao passado, estará desprovida de liberdade de construir seu futuro, estará atrelada a roteiros predeterminados; mas, também, se perder sua capacidade de evocar a história, será vista como mais uma imagem no turbilhão indiferenciado do consumo”.
Para o curador, Pasta, com resiliência rara, procura sustentar o limiar dessa tensão paradoxal. “É talvez por advirem desse limiar que as telas reunidas possuem características ambivalentes: há algo nelas que parece emergir para, logo em seguida, retroceder diante do olhar. Os sutis contrastes entre cores de tonalidade similar vibram e se escondem. Alguma profundidade pictórica é sugerida e, logo, dissolve-se. A lembrança do cromatismo de certo pintor (Volpi, Morandi, Rubens, Tintoretto) se delineia, mas pode ser igualmente substituída pela memória dos muros e fachadas dos bairros populares brasileiros”, completa Miyada.