Quando a vida é uma euforia

De 23 de janeiro a 04 de março 2018

Responsável por imprimir nas ruas de Recife a identidade visual e a cenografia do carnaval pernambucano ao longo de dez anos, a artista gráfica Joana Lira apresenta no Instituto Tomie Ohtake o carnaval pernambucano, ressaltando as manifestações regionais, com um olhar atual, repleto de resignificados.

 

Com curadoria de Mamé Shimabukuro, a mostra promove uma aproximação do visitante com o multifacetado carnaval pernambucano, transportando o público para aquela que é considerada uma das maiores festas populares brasileiras. “A mostra busca uma tonalidade experimental, ao costurar situações imersivas e documentais sobre as histórias e personagens deste carnaval, refletindo sobre como as representações gráficas da cultura carnavalesca interagem com os sentimentos e emoções das pessoas”, afirma a curadora.

 

Ainda que muito apreciado nacionalmente, o país conhece pouco a particular diversidade de ritmos, melodias, temas e personagens contidos no carnaval de Recife. Por isso a exposição, que conta com trilha sonora de Maurício Badé, é também uma rara oportunidade de o público paulistano mergulhar nas originais narrativas que desenham o imaginário popular desta cultura local. Segundo Ricardo Ohtake, o Instituto realiza esta exposição principalmente pelo projeto exaltar o encontro da arte com a rua. “Joana traduz com seu vigor criativo as tradicionais invenções do povo edificadas na cultura brasileira”, completa.

 

O primeiro núcleo da mostra trata da ideia de pertencimento, ao trazer conteúdos e registros de manifestações culturais locais, tais como Frevo, Maracatu Rural, Maracatu Nação e Caboclinhos, além das propostas de intervenção urbana realizadas pela artista. Já o segundo favorece a experiência sensorial, apresentando ao visitante a possibilidade de sentir a pulsação do carnaval por meio de grandes projeções marcadas pelo som dos vários ritmos locais. Por sua vez, o terceiro núcleo concentra-se na noção de transcendência, para colocar o espectador dentro da folia, ao exibir personagens em tamanhos monumentais, as grandes proporções que sublinham o trabalho de Joana Lira.

 

“Joana desenvolveu uma antropologia visual expressa por uma linha preta vazada receptiva, que possibilita a expansão de formas geométricas e cores vibrantes. Ao mesmo tempo, estão implícitas e explícitas relações de euforia, alegria e sensualidade presentes em seu trabalho. Falamos aqui em relações estéticas e de constituição do sujeito relacionados a cidade de Recife, reconhecendo e revivendo raízes da cultura além de promover uma nova educação estética pela sensibilização do olhar”, afirma a curadora.

 

Entre as manifestações que mantêm viva a tradição do carnaval pernambucano e alimentam a obra de Joana Lira, destacam-se os maracatus nação e rural. Enquanto o nação cultua os orixás africanos com cortejos de reis e rainhas de influências africanas e portuguesas, o rural, de origem indígena, evoca os caboclos da mata, personagens conhecidos como Caboclos de lança, criação oriunda dos trabalhadores da cana de açúcar. Com vestes largas, coloridas e brilhantes, de semblante sóbrio, portam óculos escuros e carregam um cravo branco na boca. Idealizadores do Mangue beat, entre os quais Chico Science (1966-1997), revisitaram o maracatu e, ao incorporar as batidas em samplers de guitarras e outros instrumentos, criaram a síntese do que seria a “música mangue”: um pé na tradição, outro na modernidade.

 

Igualmente realçado na obra da artista está o consagrado Frevo, no qual a música e a dança foram espontaneamente concebidas pelo povo a partir da mistura de marchas militares e de capoeira, em 1907, período em que se consolidava o carnaval de rua, em Recife. É ao som do frevo que o Galo da Madrugada, bloco que, ao reunir mais de um milhão de pessoas, consagrou-se no livro dos recordes como o maior bloco de carnaval do mundo. Entre as referências há, ainda, os Caboclinhos, grupos inspirados em tribos indígenas, como Caetés, Carijos, Tapuias, Tumpinambás, Tupirapes, Taperaguases.

 

 

PROGRAMA DE ATIVIDADES

O Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake oferece visitas, oficinas e atividades gratuitas, voltadas a diversos públicos.

 

Oficina de Música Percussiva Pernambucana
Ministrada pelo músico percussionista Maurício Badé que atualmente trabalha com Criolo e Russo Passapusso.
03/02 sábado, das 15hàs 18h.
Vagas: 20

 

Oficina de fantasias de carnaval
Ateliê de produção de fantasias carnavalescas, proposto pelo educador Felipe Tenório.
09/02 6a feira pré-carnaval, às 13h.
Vagas: 20

 

Padrões Momescos: estampando a emoção
Oficina de estamparia manual para criação de estampas autorais a partir de técnica pochoir inspirados no carnaval pernambucano, ministrada por Lin Diniz e Bárbara Penaforte.

Público: Estudantes e profissionais da área de artes, design, arquitetura, moda e interessados em estamparia manual.
Obs: O Instituto irá fornecer os materiais necessários à atividade. É optativo trazer seus próprios materiais e tecidos

 

Contação de histórias
Contação de histórias inspirada no livro "O carnaval dos bichos aloprados" (Editora Nova Fronteira), da artista gráfica pernambucana Joana Lira.
24/02 sábado, às 11h.


Conversa em bloco
Visita à exposição e conversa sobre a pesquisa e as produções para o Carnaval de Recife mediadas pela artista gráfica pernambucana Joana Lira.
24/02 sábado, às 15h.

 

Apresentação de dança contemporânea - FLAIRA FERRO
Espetáculo que une a cultura popular à arte contemporânea feito pela cantora, compositora e dançarina pernambucana Flaira Ferro.
04/03 domingo, às 18h.




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