O que seria de um lugar sem regras, livre dos tabus e imposições de sociedade? Como isso funcionaria? Em 1930, o arquiteto, artista e antropólogo, Flávio de Carvalho, levantou essas questões e lançou suas ideias propondo a criação de uma cidade utópica. Por meio do texto “A Cidade do Homem Nu”, emitiu suas opiniões e argumentou sobre a liberdade sexual, religiosa, ideológica e social e como esses campos estavam sendo cada vez mais retraídos pela e na modernidade. Se deixou seduzir pela tentação do desprendimento – seja pelo abandono de uma organização familiar, do matrimônio ou da propriedade privada, por exemplo – , que possibilitaria o homem a retornar ao seu estado natural, selvagem, nu de toda e qualquer máscara da civilização, antropofágico e foi instigado pela noção de que a pesquisa teria potencial transformador, fazendo com que esse novo homem se conhecesse cada vez melhor e, partindo de seus desejos, fosse em direção ao seu próprio progresso.
“A Cidade do Homem Nu”, assim como outros trabalhos do artista, foi uma das obras exibidas na mostra Aprendendo com Dorival Caymmi – Civilização Praieira. O texto, na ocasião da exposição, pretendia mostrar uma outra visão de um país tropical em pleno processo de modernização que era até então idealizado dentro dos parâmetros de José Pancetti e Dorival Caymmi. Tal renovação e adequação dos modos de viver, pensar e fazer propostos por Flávio de Carvalho, podem ser percebidos também em seus projetos arquitetônicos, estudos e experimentos antropológicos, em que de premissas modernistas e vanguardistas se sobressaem e são usadas para o aprimoramento desse “homem dos trópicos”.
Agora, convidamos a atriz Carolina Bianchi, artista que participou da exposição Arte Atual Festival: Quadro, requadro, desquadro para fazer uma leitura dramática do texto, que ainda hoje traz com si uma grande relevância e provocação para os atuais parâmetros de sociedade.
Núcleo de Pesquisa e Curadoria