Conversa com Laura Berbet

Como você começou a produzir? Quando começou sua produção artística?

Na escola eu tinha interesse em desenho e pintura principalmente, quando chegou a época do vestibular comecei a fazer aulas no ateliê de uma artista em Uberlândia, onde também iniciei a faculdade de artes, mas como o circuito lá era pequeno, acabei prestando vestibular em Belo Horizonte e indo estudar na Escola de Belas Artes da UFMG. Ao longo da graduação, no bacharelado em artes gráficas, comecei o processo de ateliê, que é quando cada estudante é incentivado a se dedicar a seu trabalho autoral. Neste período encontrei algumas referências que me orientaram muito num lugar de estrutura de pensamento e olhar, como a Louise Bourgeois. Na etapa final da graduação, apresentei uma instalação vídeo-fotográfica como trabalho de conclusão de curso, o "domésticos" - que tratava dos objetos da casa. Nessa época eu investigava o espaço da minha casa, as relações sujeito-objeto que se instauravam dentro dela...foi também quando produzi o livro "topometrias ou o livro das intercorrências" e fiz alguns trabalhos em parceria com um amigo da EBA, o que culminou em uma exposição que fizemos juntos no Museu Universitário de Uberlândia em agosto de 2013; em "outro corpo, outra casa" expomos nossos trabalhos individuais e esta investigação em parceria. Neste período eu estava trabalhando principalmente com fotografia e vídeo. Quando terminei a graduação comecei a trabalhar em parceria com o artista Ricardo Reis, e na metade de 2013 fundamos a lavoura ambulante, que funciona como uma editora-laboratório. Em outubro de 2013 lançamos nosso primeiro zine juntos que é o "camaleão", e depois disso começamos a publicar zines de outros artistas, além de trabalhar com encadernação manual. Nessa época eu continuava a me dedicar a minha pesquisa pessoal, mas num processo mais silencioso. Em 2014 retornei a prática de partilha do processo artístico em um acompanhamento coletivo com a artista Nydia Negromonte; foi quando iniciei uma pesquisa que penso estar se estendendo até o trabalho que mostro na exposição do prêmio edp.

 

Você poderia falar um pouco sobre o seu trabalho presente na mostra?

O trabalho que estou mostrando aqui é o "vir a céu"; ele surgiu do projeto "diálogo de temperanças" que foi uma idéia de trabalhar algumas imagens que me restavam deste primeiro momento em que investiguei minha casa, com alguns vídeos que eu estava fazendo no início deste ano quando me mudei, em relação a imagem da temperança - que já me instigava há algum tempo. Comecei a pesquisar a temperança como virtude, e no processo do trabalho descobri que ela era também uma carta do tarô. Estudar a sua simbologia neste universo me orientou na produção dos desenhos que compõem o trabalho. Neste processo voltei a olhar para a casa, mas agora tentando observar os pontos de passagem da água por este espaço. A temperança está representada vertendo um líquido de uma ânfora para outra, num gesto de misturar o quente e o frio; o consciente e o inconsciente; o masculino e o feminino...mas para mim ela está também entando medir, tentando encontrar a medida da passagem entre o encher e o

esvaziar, a medida do encontro desses dois opostos. Para mim ela deseja medir o fluxo, que foi sobre o que eu me debrucei ao longo do processo de construção do trabalho; observando esses fluxos de água dentro e fora da casa.

 

Você poderia falar um pouco sobre a sua produção atual?

Anteriormente ao que mostro aqui, passei por dois processos de trabalho que foram bem intensos e marcaram bastante a minha produção. O primeiro foi a residência artística que fiz no início de 2015, em Congonhas - MG. Ao final da residência mostrei o trabalho "tudo forma uma rotação luminosa", que desenvolvi a partir da vivência na cidade, e da observação e registro de eventos luminosos (velas acesas, postes de luz, luminares celestes, fogueiras, vagalumes, etc). O trabalho consistiu em um dispositivo/instalação com imagens que tratavam destes pontos de luz e a estruturação do dia enquanto temporalidade cíclica. Em seguida, quando retornei a BH participei do Baldio, que foi um jornal elaborado em processo de residência no Sesc Palladium, em conjunto com Júlia de Carvalho Hansen, Frederico Fillippi, Mateus Acioli, Reuben da Rocha e Ricardo Reis. Ao longo de um mês desenvolvemos ações na cidade com intuito de produzir material para o jornal. Esta experiência me marcou muito pela proposição que tivemos de diluir a autoria no coletivo, o que acabou deixando o processo muito rico. O que também me marcou muito neste processo foi a proposição de uma caminhada de mulheres pelo centro de BH durante a madrugada. A idéia dessa caminhada surgiu pela diferença de experiência na cidade que todo o processo só vinha a confirmar: a diferença de trânsito entre homens e mulheres pela cidade. Agora estou desenvolvendo uma pesquisa no mestrado, pensando sobre o corpo como um artifício entre o movimento e o repouso que compõem os ciclos. Nela relaciono o caderno e a mesa como dispositivos que marcam esses dois tempos (movimento e repouso) em relação ao corpo.