VISITA GUIADA COM O CURADOR PAULO MIYADA
CATÁLOGO AI-5 50 ANOS: AINDA NÃO TERMINOU DE ACABAR
Realizada de forma colaborativa, possível pela doação de fundos de pessoas físicas, a exposição foi concebida de modo a reavivar a memória durante a crise vigente, que alimenta uma perversa nostalgia do autoritarismo. A mostra resultou em uma pesquisa abrangente, com contribuição de mais de uma dezena de pesquisadores e críticos que colaboraram a convite do curador Paulo Miyada.
Para que isso não se perca, desenvolvemos um catálogo extensivo da exposição, com mais de 300 páginas de fotografias, textos e ensaios, além de transcrições de depoimentos e documentos nunca antes publicados. A publicação conta com textos de: Alexandre Pedro de Medeiros, Carolina De Angelis, Caroline Schroeder, Gabriel Zacarias, Galciani Neves, Izabela Pucu, Luise Malmaceda, Paulo Cesar Gomes, Paulo Miyada, Pedro Borges, Priscyla Gomes, Theo Monteiro.
CATÁLOGO DISPONÍVEL NA LIVRARIA GAUDÍ NO INSTITUTO TOMIE OHTAKE E NO SITE DA EDITORA MARTINS FONTES: https://www.emartinsfontes.com.br/
exposição
“Para que pode servir uma instituição de arte em um país como o Brasil, hoje, em 2018? Embora isso não chegue diretamente ao olhar dos visitantes, essa é uma pergunta que as equipes do Instituto Tomie Ohtake enfrentam cotidianamente, no trato com as responsabilidades intrínsecas aos trabalhos desenvolvidos. As respostas para isso são muitas e uma delas passa pela revisão contínua da história da arte dentro da história mais ampla da sociedade, acreditando que tanto uma quanto a outra podem aparecer de forma renovada quando colocadas em tensão”.
A partir dessa reflexão, assinalada pelo Instituto Tomie Ohtake, nasce AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar, exposição que busca discutir os custos da retirada de direitos democráticos para o imaginário cultural do País, em resposta aos 50 anos do Ato Institucional No. 5, marco do agravamento do totalitarismo da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).
Conforme o curador Paulo Miyada, a pesquisa tem como núcleo a produção de artes visuais do período, com obras, ideias e iniciativas que nasceram em tensão com a interdição da própria opinião política, que chegou a ser virtualmente criminalizada pelas práticas de censura e repressão. Em alguns casos, as obras reunidas foram proibidas, destruídas ou subsistiram ocultas; em outros, sua circulação foi seriamente contida e seus modos de expressão passaram por codificações e táticas de resistência.
Como uma exposição-ensaio, AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar propõe um percurso que passa por diversos estágios de restrição dos direitos democráticos e destaca múltiplas atitudes de contestação, grito e reflexão. Há também espaço para textos e documentos de contextualização, além de algumas obras comissionadas de artistas mais jovens, que conheceram o período por meio da história.
Segundo Miyada, uma das contribuições que a arte pode oferecer mesmo durante os arcos mais sombrios da história humana é a sua capacidade de ampliar o campo do que pode ser dito e sentido frente aos limites e interdições da linguagem. “Com isso em mente, é possível considerar que esta mostra não é apenas um memorial de silenciamentos e perdas, mas também de reinvenções e resistências, com apelos que se endereçaram à sociedade de então e continuam em aberto para os cidadãos de hoje”, completa o curador.
A exposição está dividida em seis núcleos:
1. Censura no período da ditadura civil-militar frente a frente com a emergência da ideia de “opinião” na produção artística entre 1964-1968. Apresenta exemplos de engajamento crítico das vanguardas artísticas e o acirramento gradual de mecanismos de silenciamento que fizeram um arco desde casos de censura moral até ataques explícitos à liberdade de expressão e crítica.
Destaques desse núcleo: Textos de Hélio Oiticica e obras de Cybele Varela e Carlos Vergara, fotografias de Evandro Teixeira e projeto não realizado de Carmela Gross.
2. Criminalização da própria opinião após o AI-5 e transformação das tendências artísticas que, com o acirramento das estratégias de repressão, alcançaram seu ponto de máxima tensão entre 1968 e 1970. Discute como artistas que integraram ativamente a transformação da arte brasileira na segunda metade da década de 1960 produziram obras limítrofes, radicais e de contestação, muitas vezes de perto (ou de dentro) de episódios de prisão, exílio, tortura e coerção.
Destaques desse núcleo: Depoimento de Gilberto Gil, obras e depoimentos de Claudio Tozzi e Carlos ZIlio, depoimento de José Carlos Dias, obras de Antonio Henrique Amaral e Anna Bella Geiger, obras e caderno inédito de Antonio Dias.
3. Produção da chamada “geração de guerrilha”, que ganhou espaço na arte brasileira entre 1969 e 1970 e constantemente emulou em seus processos criativos táticas de infiltração, resistência e indistinção típicos de movimentos de guerrilha urbana. Trata-se, também, de uma produção que buscou ocupar espaços nas bordas ou fora do circuito artístico institucional, além de reagir a tentativas de censura e/ou enquadramento formal de suas proposições.
Destaques desse núcleo: Obras de Antonio Manuel, Artur Barrio e Cildo Meireles. Contraposições e contrastes: Carlos Pasquetti, Regina Vater e Nelson Leirner.
4. Arte na década de 1970 e recursos de busca de liberdade e crítica em um país autoritário. Levantamento de caminhos apesar dos interditos, que passaram pelo teor libidinoso e lúdico da produção chamada de “marginal”; pela formação de circuitos subterrâneos de distribuição, como cineclubes e redes de arte correio; e por experimentação de modelos linguísticos com alto grau de codificação e desenvolvimento conceitual.
Destaques desse núcleo: Obras de Wlademir Dias-Pino, Paulo Bruscky, Regina Silveira, Regina Vater e filmes de José Agrippino de Paula e Ivan Cardoso.
5. Críticas ao desenvolvimentismo do ideal de país promovido pela ditadura. Seleção de obras que apontam para a resistência ao otimismo nacionalista impulsionado pela retórica de ocupação da Amazônia, megalomaníaco e inconsequente com reflexões ecológicas e os direitos das populações indígenas.
Destaques desse núcleo: Obras e livros de Claudia Andujar, obra de Cildo Meireles e filme de Jorge Bodanzky.
6. Reflexão sobre a crise institucional que alcançou o processo de “abertura democrática”, aplicado ao caso das instituições artísticas, a exemplo de tantas outras áreas, não passaram por um processo cuidadoso e amplo de reconstrução e revisão de suas premissas com o final da ditadura na década de 1980.
Os assuntos em destaque são proposições provocativas para o campo artístico, todas interrompidas ou descontinuadas: a criação do Museu da Solidariedade no Chile, por Mario Pedrosa; a proposição do Museu das Origens após o incêndio do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, também por Mario Pedrosa; e o Encontro de Críticos de Arte da América Latina, organizado por Aracy Amaral com o intuito de rediscutir as premissas da Bienal de São Paulo.
LISTA COMPLETA DE ARTISTAS PARTICIPANTES:
Adriano Costa, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Benetazzo, Antonio Dias, Antonio Henrique Amaral, Antonio Manuel, Aracy Amaral, Artur Barrio, Aurélio Michiles,Augusto Boal, Aylton Escobar, Bené Fonteles, Caetano Veloso, Carlos Pasquetti, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Carmela Gross, Chico Buarque, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Claudio Tozzi, Coletivo (Ana Prata, Bruno Dunley, Clara de Capua, Derly Marques, Deyson Gilbert, Janina McQuoid, João GG, Leopoldo Ponce, Mauricio Ianês, Pedro França e Pontogor), Cybèle Varela, Daniel Santiago, Décio Bar, Décio Pignatari, Desdémone Bardin, Edouard Fraipont, Evandro Teixeira, Francisco Julião, Frederico Morais, Gabriel Borba, Genilson Soares e Francisco Iñarra, Gilberto Gil, Glauber Rocha, Glauco Rodrigues, Guga Carvalho, Hélio Oiticica, Ivan Cardoso, Jo Clifford, Renata Carvalho, Natalia Mallo e Gabi Gonçalves, João Sanchez, Jorge Bodanzky, José Agrippino de Paula, José Carlos Dias, José Celso Martinez Corrêa, Lula Buarque de Hollanda, Marcello Nitsche, Marcio Moreira Alves, Marisa Alvarez Lima, Mario Pedrosa, Matheus Rocha Pitta, Mauricio Fridman, Nelson Leirner, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Raymundo Amado, Regina Silveira, Regina Vater, Reynaldo Jardim, Ricardo Ohtake, Roberto Schwarz, Samuel Szpigel, Sérgio Sister, Vera Chaves Barcellos, Wlademir Dias-Pino e outros.
AGRADECIMENTOS
AOS GENEROSOS APOIADORES DA MOSTRA
Alfredo Setúbal, Beatriz Yunes Guarita, Bolsa de Arte, Cleusa Garfinkel, Érika Malzoni, Fernanda Feitosa e Heitor Martins, Galeria Almeida e Dale, Galeria Bergamin & Gomide, Galeria Mendes Wood DM, Galeria Nara Roesler, Fundação Marcos Amaro, Jaqueline Martins, José Luís e Natalie Salazar, Leilah Assumpção, Luiz Bernardes, Marco Kheirallah, Miguel Chaia, Paulo Kuczynski, Regina Pinho de Almeida, Ricardo Kugelmas, Roberto Miranda de Lima, Rodrigo Bresser Pereira, Thalita Zaher
E AOS QUE COLABORARAM DE OUTRAS FORMAS PARA O PROJETO
Agência O Globo, Akio Aoki, Alexandre Copês, Alexandre Pedro de Medeiros, Alexandre Roesler, Ana Barros, André Millan, Antonia Bergamin, Ariane Figueirêdo, Arnaldo Antunes, Arquivo Edgard Leuenroth - UNICAMP, Arquivo Histórico Wanda Svevo, Astréa El-Jaick, Aurélio Michiles, Biblioteca Mário de Andrade, Camila Goulart, Camilla e Eduardo Barella, Carla Borges, Carla Ramos, Carlo Zacquini, Carolina Caliento, Caroline Schroeder, Cecilia Boal, Cecilia Rocha, Cesar Oiticica Filho, Chara Albuquerque, Charles Cosac, Cinemateca Brasileira, CPDocJB, Daniel Roesler, Danilo Carvalho, Edouard Fraipont, Eduardo Leme, Eliana Finkelstein, Eliane Lóss, Elisabete Marin Ribas, Elisabeth Varela, Elsa Ravazzolo, Estadão Conteúdo, Eveline Alves, Fernando Oliva, Fundação Biblioteca Nacional, Gabriel Zacarias, Galciani Neves, Galeria Luisa Strina, Galeria Utópica, Galeria Vermelho, Gonzalo Gaudenzi, Gustavo Nóbrega, Hugo Leonardo, Ibiraci Vieira Pinto, Inácio Schiller Bittencourt Rebetez, Instituto de Arte Contemporânea, Instituto Augusto Boal, Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, Instituto Inhotim, Instituto Moreira Salles, Iole de Freitas, Isadora Belletti, Isadora Dubeux Ganem, Izabela Pucu, Jerry Greenberg, Joanna Balabram, João Avelar, João Paulo Teixeira, João Vergara, José Resende, Joy Bar, Julio Le Parc, Laila Kibel, Leonel de Barros, Leonor Souza Pinto, Lilia Schwarcz, Livia Gonzaga Bertuzzi, Luciano Momesso, Luana Fortes, Luiz Renato Martins, Marcele Souto, Marcelo Drummond, Marcio Botner, Marcos Gallon, Maria Gil, María José Lemaitre, Mariana Amaral, Mariana Dupas, Marilucia Bottallo, Marli Matsumoto, Marlise Corsato, Monica Tachote, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de la Solidaridad Salvador Allende, Nilva Prado Fridman, Nina Dias, Odette Vieira, Orandi Momesso,Paloma Rocha, Pablo Di Giulio, Paola Chieregato, Paula Alzugaray, Paula Signorelli, Paulo Cesar Gomes, Paulo Sacramento, Pedro Barbosa, Pedro Borges, Projeto Hélio Oiticica, Projeto Memória da Censura no Cinema Brasileiro, Rara Dias, Reinaldo Cardenuto, Renato Silva, Ricardo Resende, Rita Paiva, Rosana Boaventura, Sebastian Bardin-Greenberg, Simone Michelin, Soizic Oger, Silvia Cintra, Vinícius Ramos, Quito Pedrosa, Teatro Oficina, Vera Pedrosa, Vitor Cesar e Zuleika Alvim