De 07 de maio a 24 de julho de 2022
De terça a domingo, das 11h às 20h. Entrada franca.
Anna Maria Maiolino - psssiiiuuu...
Mostra antológica traz vida-obra de uma das mais relevantes artistas contemporâneas
A exposição inédita de Anna Maria Maiolino – a ser inaugurada no mês em que a artista completa 80 anos – ocupará, com cerca de 300 obras, todas as três grandes salas do andar superior do Instituto Tomie Ohtake, espaço só antes dedicado às individuais de Yayoi Kusama e Louise Bourgeois. O curador Paulo Miyada esteve nos últimos três anos ao lado de Maiolino para juntos desenharem a exposição, construída a partir de muitas horas de conversa que resultaram, além de um ensaio aprofundado do curador sobre a produção da artista, em maquetes que dispõem meticulosamente cada obra selecionada.
A mostra antológica, uma vez que traz momentos, obras e acontecimentos significativos na “vida-obra” de Maiolino, como ela mesma nomeou, traz pinturas, desenhos, xilogravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, peças de áudio e instalações. Segundo Miyada, Anna Maria Maiolino - psssiiiuuu... (onomatopeia que pode ser assobio, chamado, flerte, pedido de silêncio, segredo, sinal) foi concebida como uma espiral que circula entre todas as fases e suportes da carreira da artista. A analogia com a espiral se refere à maneira de voltar e ir adiante ao invés de seguir uma cronologia linear. “Vai-se adiante para se reencontrar o princípio, consome-se energia para devolver as coisas ao que sempre foram”, destaca o curador.
In-Out (Antropofagia), 1973/74
Super 8 transcrito em vídeo em 2000
Roteiro/Direção/Montagem: Anna Maria Maiolino; Fotografia: Sigmund Zehr; Música:
Laura Clayton; Participação especial: João Eduardo Osório; Finalização: Paulo
Humberto Moreira, Track Master Produções e Comércio Ltda.
8min 17s
Coleção da artista
Por um fio, da série Fotopoemação, 1976
Fotografia analógica em impressão analógica
73 x 120 cm
Coleção da artista
Foto: Regina Vater
Ateliê da artista, Rio de Janeiro, 1993
Foto: Gianzia Imazio
Anna Maria Maiolino - psssiiiuuu... está dividia em três núcleos que ocupam respectivamente cada uma das três salas do Instituto Tomie Ohtake. Em ANNA, vida, biografia, desejo e multiplicidade convergem no corpo da obra da artista. O conjunto reúne gestos de uma mulher que pode ser uma ou muitas, que deseja e é desejada, que cuida, que desaparece e abruptamente emerge novamente. Sobrepondo múltiplos papéis – como filha, artista, mãe, cidadã, mulher, amante, escritora, latino-americana, europeia e imigrante -, Maiolino mapeou seus deslocamentos físico e psíquico durante a vida e construiu a compreensão de identidade como um constante fluxo que vai e vem entre um e o outro, entre o eu e a multidão.
Já em Não Não Não, as obras confrontam totalitarismo, censura, repressão e desigualdade. Seu interesse político abrange desde a violência dos regimes ditatoriais da América Latina até a aparente normalização da pobreza e da fome numa escala global. Os focos centrais deste núcleo são a remontagem da celebrada obra Arroz e Feijão (1979), que incluirá a oferta de refeições para o público em algumas ativações; uma nova instalação chamada O amor se faz revolucionário, baseada em um projeto de 1992 que homenageava as corajosas mulheres que se organizaram para perseguir a verdade e a justiça depois de terem perdido seus filhos durante a ditadura militar argentina; e obras que remetem à exposição Aos Poucos, que Maiolino realizou em 1978 e Miyada identifica como uma importante mostra política realizada no Brasil e até hoje pouco discutida pela crítica.
Instalação: Solitário ou Paciência, 1976
Remontagem da versão original da instalação apresentada na exposição Aos Poucos da Petite Galerie, Rio de Janeiro.
Materiais: mesa, toalha de mesa, jogo de baralho
Por sua vez, Ações Matéricas parte do encontro entre materialidades diversas e gestos atávicos identificados tanto ao trabalho do dia-a-dia quanto ao do nascimento da humanidade. Pressionar, moldar, cortar, agarrar, escorrer e rolar são algumas das ações básicas que Maiolino emprega enquanto lida com argila, tinta, vidro, concreto e outros materiais, resultando em uma prática visual e escultural fortemente ancorada na escala do corpo. A seção inclui obras feitas há mais de 50 anos ao lado de trabalhos recentes, compondo uma espécie de paisagem com múltiplas peças que se relacionam de modo táctil e visual. Neste núcleo pode-se apreender o grande caminho espiral criado pela exposição: voltar e ir adiante no tempo, linguagem e subjetividade.
Ecce Homo, 1967
Xilogravura
66 x 48 cm
Coleção da artista
Sem título, da série Entre Pausas, 1968/1969
Caneta sobre papel
21 x 29 cm
Coleção da artist
O Herói, 1966/2000
Acrílica sobre madeira, metal e tecido
59 x 46 x 7 cm
Acervo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Doação da artista, 2015
O catálogo da exposição traz um extenso ensaio de Paulo Miyada, reproduções de todas as obras e ainda seleção inédita de escritos da artista ao lado de documentos, projetos, fotografias e esboços. Esses documentos reforçam a prerrogativa de gênero, maternidade, sexualidade, políticas migratórias e questões sociopolíticas como aspectos-chave de um trabalho que é completamente misturado com vida, mesmo quando sua aparência não é obviamente autobiográfica, nem predominantemente narrativa. De modo complementar à exposição, essa publicação oferecerá uma oportunidade única de considerar as implicações entre vida e obra de Anna Maria Maiolino.