Cheio de Vazio


De 5 de abril a 4 maio 2014


Organizada pelo Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, a exposição Cheio de Vazio reúne obras de duas artistas que trabalham a gravura de maneira particular e em grandes dimensões.

A paraense Elaine Arruda utiliza martelos, formões, solda e outros instrumentos usualmente empregados na confecção de escadas e portões para trabalhar sobre amplas chapas metálicas, na própria metalúrgica. O processo seguinte consiste em transportar a chapa, então irregular, até outra metalúrgica, também localizada no Cais do Porto de Belém do Pará, onde é soldada a uma máquina de calandragem, para funcionar como matriz de uma gravura de grande formato, com cerca de um por dois metros. Segundo os curadores, esta operação implica, sobretudo, em saturar as possibilidades implícitas na profundidade do rasgo da ponta seca sobre a matriz de metal. “Ao invés de comportar-se como fino estilete, a ‘ponta seca’ de Elaine provoca relevos, abre cortes com bordas serrilhadas, cria hematomas que depois são replicados na superfície do papel impresso, que não recebe apenas cargas maiores ou menores de tinta, mas também se deixa marcar por relevos, depressões e rupturas de sua trama”, ressaltam. 


 



  
Paulo Miyada e Julia Lima do NPC comparam a gravura de Elaine à cidade de Belém, que está inserida de forma peculiar entre um amplo rio e uma floresta densa, úmida e quente, onde todo vazio precisa ser conquistado pelo homem. “O processo de entintamento e impressão e as grandes áreas trabalhadas das matrizes fazem das imagens resultantes um campo bastante denso, com áreas ainda mais densas e apenas eventuais vazios - rasgos - donde surge certa luminosidade deste campo pictórico. “Assim, um gesto intenso e corporal faz da superfície gravada uma imagem que sugere um espaço vasto na sua envergadura e acidentado em sua profundidade visual e material”.

Já as obras de Marcia de Moraes, incluindo os desenhos que irá apresentar em “A parte que não te pertence”, constituem-se por intensa e detalhada construção de campos cromáticos. Utilizando apenas lápis de cor sobre papéis de grande formato, a artista cria áreas de cor vibrantes, as quais seguem curvas tão sinuosas que parecem resultar do escoamento de tintas e líquidos. Porém, destacam os curadores, não há nada de líquido na sua fatura, pois são necessárias horas e horas de trabalho para preencher cada pequena área do desenho. “Assim, o jogo puro com as formas abstratas que caracteriza as transformações da arte brasileira dos anos 1950 e 1960 é reencenado pela artista da forma mais laboriosa”, completam. Segundo eles, essa discrepância cria espaço para que as obras falem não só de aspectos formais da arte, mas também lidem com as expectativas e projeções psicológicas da própria autora  – o que a coloca em relação com artistas brasileiros como Maria Martins e Flávio de Carvalho.