Estranhamente Familiar / Unheimlich


De 12 Março a 28 Abril 2013

Ampliando sua sólida agenda e estudos que desenvolve para o aprofundamento da arte contemporânea, o Instituto Tomie Ohtake promove a primeira exposição do seu novo programa curatorial, o Arte Atual. Elaborado pelo Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (NPC), o projeto foi concebido para promover exposições coletivas de artistas emergentes em que projetos experimentais ambiciosos possam ser concretizados e apresentados ao público, contando, para isso, com o apoio ativo de galerias de arte presentes no país.

Estranhamente Familiar/Unheimlich inaugura o Arte Atual. Com curadoria de Paulo Miyada, coordenador do NPC, reúne obras de quatro jovens artistas: Alice Miceli, Mariana Manhães, Rodrigo Matheus e Thiago Honório.  Segundo o curador, o termo unheimlich, consagrado e debatido por Freud em seu ensaio “Das Unheimlich” de 1919, define o conceito da exposição. Sem tradução para o português, a palavra indica algo que está entre estranho e familiar, que é excessivamente próximo e ao mesmo tempo emerge de um contexto ameaçadoramente irreconhecível. 

Miyada explica ainda que, embora voltada à psicanálise, a reflexão sobre o termo extravasa esse campo, chegando descoberta de que o estranhamente familiar nada mais é do que o aprofundamento de um dos sentidos do ambivalente termo heimlich (doméstico, familiar). “O que se protege na esfera familiar da casa também é o que se esconde do olhar de outrem, o que permanece recolhido, e é quando ele emerge inesperadamente para fora de sua reclusão que se produz o efeito de unheimlich”, completa. 





os artistas  

O mineiro Thiago Honório (Carmo do Parnaíba – MG, 1979), aparece com duas obras.  Pret-a-porter, um conjunto de estojos, caixas e mostruários vazios de diferentes formatos, dimensões e procedências, todos aptos a receberem objetos produtores de intimidade, alinhados lado a lado com suas tampas abertas em noventa graus, oferecendo um panorama de cores vívidas, uma demonstração obscena de intimidades. Evocando o potencial desnorteante da colisão entre a imagem de algo vivo e algo inanimado, Thiago Honório apresenta também a escultura Anima, que traz uma pele inteiriça de zebra com focinho, orelhas e rabo, fixada a um cubo transparente.

A maneira pela qual uma história atravessa o real, em um momento traumático, reflete-se de maneira peculiar na videoinstalação O Flautista, realizada por Alice Miceli (Rio de Janeiro, 1980). A artista escolheu uma única fotografia que alude ao enredo do conto escrito pelos irmãos Grimm “O flautista de Hamelin”, e desenvolveu um processo em que o andamento do vídeo resulta da oscilação das propriedades fotográficas dessa imagem ao longo do tempo, de acordo com as propriedades sonoras da música que conduz a sua narrativa.

Ao deparar-se com a instalação de Mariana Manhães (Niterói – RJ, 1977), o público perceber-se diante de um enorme corpo articulado, algo que pode ser percebido como um gigante em repouso. O fato de que esse corpo pulsante seja composto de materiais notadamente artificiais – como tubos metálicos, sacos plásticos e ventiladores – confunde o entendimento entre o orgânico e o sintético no próprio corpo do espectador, remetendo ao estranhamente familiar.  

Interessado também em tais possibilidades de desnorteamento, Rodrigo Matheus (São Paulo, 1974) realiza uma nova instalação que visa provocar essa sensação com a menor quantidade de elementos possível. O artista utiliza um instrumento de nivelamento, uma luz rotatória e uma espiral de pedriscos para, segundo o curador, “transformar a sala de exposição em uma espécie de diorama imersivo – uma paisagem alienígena instantaneamente evocada”.


 



 

realização

        

  

       

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