16 de março a 30 de Abril 2016
Barcelona 1888 e 1929, duas exposições universais são realizadas em Barcelona, em torno da passagem do século XIX ao XX. A cidade transforma-se radicalmente no período entre esses dois eventos que serão os marcos de uma época dourada. A exposição de 1888 representa o despertar da letargia econômica e cultural iniciada após a Guerra de Sucessão que culminou com a submissão de Barcelona à Monarquia dos Bourbons, em 1714. No outro extremo, a exposição de 1929, às portas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que significou a perseguição e a proibição da singularidade cultural catalã.
Em 1888 a cidade acabava de se libertar do cinturão de muralhas. Em 1929 a sua expansão já é uma realidade, a planície de Barcelona está urbanizada e os povoados adjacentes como Sarrià, Gracia, San Martí de Provençals, Poble Nou etc. já estão plenamente integrados à cidade. Em pouco mais de 4 décadas Barcelona torna-se um dos centros culturais da Europa, graças à sinergia entre a burguesia industrial, a política e os artistas. A arte catalã passa a fazer parte do debate estético europeu.
Nessa frutífera Barcelona desenvolve-se o modernismo catalão, movimento irmão do Art Nouveau francês, do Modern Style inglês e do Sezessionstil de Viena. Todos eles nascem da idealização da tradição medieval e de um olhar sobre a natureza. São consequência do Romantismo e de outros movimentos paralelos como o Simbolismo, o Pré-rafaelismo e o Orientalismo que se desenvolviam na Europa do século XIX.
O Modernismo catalão tem a singularidade de nascer paralelamente à criação de uma identidade cultural nacional catalã. É a base da Catalunha moderna. Muitos são os artesãos e artistas que graças a essa comunhão social puderam criar e pesquisar linguagens e técnicas artísticas em todos os campos.
Embora unidos na reinvindicação da natureza e da subjetividade, esta é representada em múltiplas formas de ver e de entender a arte. Uns mais ligados aos preceitos românticos, outros ao simbolismo, em alguns já aparecem elementos funcionalistas e racionalistas etc. Entre todos eles sobressai, por sua singularidade, o já universal Gaudí.
Gaudí é, e foi, um personagem singular. Aparentemente contraditório, suas ideias e seu modo de fazer não se desprendem da tradição, mas abrem as portas a conceitos arquitetônicos considerados modernos até hoje. Em vida foi uma pessoa pouco dada ao trato social, a ponto de converter-se em um eremita da arquitetura, enclausurado em sua obra maior que é a Sagrada Família. De 1914 até sua morte, em 1926, Gaudí trabalhou e viveu única e exclusivamente na Sagrada Família, e para ela.
Como no caso de tantos outros gênios, seu isolamento não impediu que a obra fosse centro de múltiplas polêmicas: odiada por alguns, admirada por muitos. A sua experimentação técnica e formal, sua capacidade de absorver e reelaborar as teorias estéticas e arquitetônicas, fizeram dele um arquiteto de densidade única, difícil de repetir. Em suas obras está condensado o debate artístico da mudança de século junto à depuração de uma linguagem arquitetônica única.
Raimon Ramis e Pepe Serra, curadores.