WE ARE HERE: INTIMIDADES RADICAIS

De 09 de fevereiro a 03 de abril de 2022. 




INTIMIDADES RADICAIS
Obras das coleções do British Council e Lux do programa WE ARE HERE em diálogo com artistas brasileiros. 


Pela segunda vez, Instituto Tomie Ohtake e British Council promovem WE ARE HERE, programa que reúne série de filmes das coleções de British Council e Lux, com curadoria de Tendai Mutambu, em sintonia com obras de artistas brasileiros, selecionados nesta edição pelos curadores do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, Priscyla Gomes e Ana Paula Lopes.

INTIMIDADES RADICAIS discute as intersecções entre afetos e desejos construídos em escala subjetiva e os debates teóricos sobre gênero. Como aponta a curadoria responsável pelos trabalhos do Reino Unido, o atual momento social, político e cultural parece colocar em perspectiva os direitos conquistados e o valor da livre expressão das diferenças. O recrudescimento no processo de abertura social para perspectivas mais inclusivas reflete-se em âmbitos distintos, seja no cotidiano doméstico, seja em políticas governamentais. “No caso brasileiro, em que os indicadores de violência e intolerância foram sempre inaceitáveis, os casos de feminicídios e atentados à população LGBTQIA+ têm se multiplicado ainda mais nos últimos anos”, aponta a curadoria brasileira.

Do Reino Unido é apresentada uma compilação de filmes, com duração de 60’29, que se inicia com I hope I’m Loud When I’m Dead, 2018, de Beatrice Gibson. A artista relembra a maternidade e seus relacionamentos com poetas queer - CAConrad e Eileen Myles - como forma de reformular a ganância e a intolerância atuais. Gibson reúne imagens do incêndio na Torre Grenfell no Reino Unido, a migração em massa de refugiados e o derretimento da calota polar com imagens de cuidado e afeto. O segundo filme, Sharla Shabana Sojourner Selena, 2016, de Rehana Zaman, observa seis narradoras compartilhando experiências pessoais em audições, algumas roteirizadas, outras espontâneas. Elas descrevem cenários onde raça e gênero influenciam os encontros de cada protagonista no seu ambiente de trabalho, em reuniões religiosas ou em suas vidas românticas. O roteiro usa referências de textos psicossociais (Experiências em Grupo, de W.R Bion) e filmes experimentais feministas (Soft Fiction, de Chick Strand, e What You Take for Granted, de Michelle Citron). As histórias são intercaladas com momentos de contato físico, em um salão de beleza em que o cuidado e o prazer são oferecidos como alternativas aos anseios de suas vivências. Por sua vez, o terceiro filme, Casting Through and Scenes from Radcliffe, 2017, de Stephen Sutcliffe (1968, Inglaterra), traça paralelos entre o romance Radcliffe (1960), de David Storey, e um desejo não correspondido do diretor britânico de cinema e teatro Lindsay Anderson em relação ao ator Richard Harris. A tensão da obra literária original, pioneira no debate da homofobia antes da contracultura e dos movimentos da década de 1960, é traduzida no movimento circular ininterrupto da câmera e nas elipses da narrativa encenada para o vídeo.

 

Os trabalhos selecionados pela curadoria brasileira trazem questões que concernem aos papeis construídos socialmente por esses gêneros, violências sofridas e reivindicações ainda necessárias. Para tal, o programa de filmes convidou a artista espanhola Sara Ramo (Madri, Espanha, 1975), o diretor e roteirista Renan de Cillo (Piracicaba, SP, 1988) e a artista multidisciplinar Ode (Itajubá, MG, 1998).

A seleção de filmes desses artistas apresenta possíveis paralelos e justaposições às obras britânicas. Sara Ramo apresenta Una y Otra vez / Once and Again (2019), um vídeo que emula a boca de cena de um teatro de bonecos ou marionetes; apesar da atmosfera leve associada ao imaginário dessa modalidade cênica, a narrativa sugerida cria fabulações em torno do abuso e da violência doméstica contra a mulher. Já o premiado filme-ensaio de Renan de Cillo, Bicha-Bomba (2019), convoca seus expectadores a ponderar sobre o caráter destrutivo e arbitrário da homofobia. O diretor justapõe imagens VHS de sua infância à narração da história do menino Alex, que aos oito anos de idade foi espancado até a morte por seu pai. Em outro âmbito, Ode investiga poeticamente a travestilidade e as práticas emancipatórias dos corpos. A artista traz Restituição (2021), realizada em parceria com Vitor Duarte.

Além dos três vídeos apresentados, a curadoria brasileira convidou ASSUME VIVID ASTRO FOCUS (AVAF) para intervir no espaço expositivo, transformando a ambiência da sala expositiva com um conjunto de papéis de parede e intervenções luminosas. Desde sua criação no começo dos anos 2000, AVAF é um coletivo que desafia tentativas de definição e enquadramento, explorando diversas linguagens e reformulando livremente as leituras possíveis de seu acrônimo. Sem gênero definido, AVAF tem testado os limites do sistema da arte e demonstrado forte conexão com espaços da vida noturna que historicamente oferecem abrigo, união e sociabilidade a pessoas cujos modos de vida que romper com as convenções normativas de gênero e sexualidade. 


Filmes Reino Unido

I hope I’m Loud When I’m Dead, 2018, Beatrice Gibson, 21’

Sharla Shabana Sojourner Selena, 2016, Rehana Zaman, 22’14 (LUX)

Casting Through and Scenes from Radcliffe, 2017, Stephen Sutcliffe, 16’53 (LUX)

 

Filmes Brasil

Una y Otra vez / Once and Again (2019), Sara Ramo, 9’40

Bicha-Bomba (2019), Renan de Cillo, 8’

Restituição (2021), Ode e Vitor Duarte, 4´50

 

BIOGRAFIAS DOS ARTISTAS

Beatrice Gibson (n. 1978) vive e trabalha em Londres. Ela é uma artista-cineasta cujos filmes exploram a atração entre o caos e o controle no processo de produção. Com base em figuras da literatura e composição modernista experimental, como Cornelius Cardew, Robert Ashley e Gertrude Stein, os filmes de Gibson são frequentemente participativos e incorporam ideias e processos co-criativos e colaborativos.

Rehana Zaman (n. 1982) mora em Londres e trabalha com imagem em movimento e performance. Seu trabalho considera a interação de múltiplas dinâmicas sociais que constituem sujeitos ao longo de formações sócio-políticas particulares. Essas peças narrativas, muitas vezes inexpressivas e neuróticas, são frequentemente geradas por meio de conversas e colaboração com outras pessoas. Uma questão primordial do trabalho de Zaman é como as preocupações sociais e políticas, além de fornecer conteúdo, podem se estruturar como uma obra de arte é produzida.

Stephen Sutcliffe (nascido em 1968) cria colagens de filmes a partir de um extenso arquivo da televisão britânica, som de filmes, imagens de transmissão e gravações de palavras faladas que coleciona desde a infância. Muitas vezes refletindo sobre aspectos da cultura e identidade britânicas, os resultados misturam aspectos melancólicos, poéticos e satíricos que sutilmente provocam e criticam as ideias de consciência de classe e autoridade cultural. Por meio de um extenso processo de edição, as obras de Sutcliffe colocam som contra imagem para subverter narrativas predominantes e gerar leituras alternativas por meio da justaposição e sincronização de material visual e auditivo.

assume vivid astro focus (avaf) é formado por Eli Sudbrack (Rio de Janeiro, Brasil, 1968) e Christophe Hamaide Pierson (Paris, França, 1973). Os dois artistas trabalham independentemente sob o pseudônimo avaf, mas também juntam forças ocasionalmente. Com frequência eles também se transformam num coletivo. Por meio de uma vasta gama de mídias, incluindo instalações, pintura, tapeçaria, néon, papel de parede, vídeo, etc,  o avaf, com frequência, confronta arraigados códigos culturais, questões de gênero e política através de uma superabundância de cores e formas. O pseudônimo é parte fundamental no seu processo de trabalhar “coletivamente”. O intuito central de seus projetos é sempre a criação de um Gesamtkunstwerk (“obra total de arte”) onde o espectador se torna um com trabalho de arte. Ser inclusivo é peça chave para a realização de suas obras - avaf usa a cor como linguagem universal com a intenção de garantir a participação e entrega do espectador. O público sempre é centerpiece em todos seus projetos. O avaf tem sido objeto de exposições e projetos de arte pública em galerias e museus no Brasil e no exterior, dentre os quais destacam-se: MoMa (NY), Whitney Biennial (NY), Peres Projects (San Francisco e Berlim), Manifesta 11, Cabaret Voltaire (Zurich), Astrup Fearnley Museum (Oslo).

Ode (n. 1998) é uma artista brasileira multidisciplinar, autodidata, que atua também com curadoria, escrita, styling e direção. Criadora da extinta plataforma digital Projeto Dúdus, com foco em produções artísticas afrodiaspóricas e africanas. Curou a exposição Note On Travecacacceleration a convite da Lux Moving Image 2020-2021 e atualmente, é uma das diretoras representadas pela Barry Company. Sua pesquisa aborda principalmente questões sobre a diáspora africana, a travestilidade e as práticas emancipatórias dos corpos.

Renan de Cillo (n. 1989) é diretor e roteirista. Graduado em Cinema e Audiovisual na Unespar, Curitiba-PR. Foi premiado inúmeras vezes com seu curta Bicha-Bomba (Bomb-Queer), lançado em 2019. O curta vem sendo exibido em festivais como, Cinema LGBTQIA+2021, no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, 2021, e de Gramado, 2021. Ganhou o prêmio de melhor curta e roteiro, no 18º MAUAL – Mostra Audiovisual Universitário e Independente da América Latina, 2021; 1º Festival de Tela Curta Cachoeiro, 2021; Melhor Filme Mostra Queerança – II Transforma: Festival de Cinema da Diversidade de Santa Catarina, 2019.

Sara Ramo (Madri, Espanha, 1975). Artista Visual graduada em Belas Artes pela Universidade Complutense, Madrid. Com práticas múltiplas em instalação, vídeo, fotografia, escultura e colagem, a artista toma objetos cotidianos para com eles compor novos arranjos. Suas obras integram importantes coleções importantes como Fundação Botín, Patrícia Phelps Cisnero Collection, Inhotim, Itaú Cultural, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

Parceiros:

 

REINO UNIDO: LUX

LUX é uma agência internacional de artes que apóia e promove as práticas de imagem em movimento de artistas e as ideias que os cercam. Fundada em 2002 como uma empresa de caridade e sem fins lucrativos, limitada a organização se baseia em uma longa linhagem de antecessores (The London Film-Makers ’Co-operative, London Video Arts e The Lux Centre) que remontam à década de 1960. 

 

REINO UNIDO: BRITISH COUNCIL

O British Council é organização internacional do Reino Unido para relações culturais e oportunidades educacionais. Construímos conexões, entendimento e confiança entre o povo do Reino Unido e o de outros países por meio das artes e cultura, educação e Língua Inglesa. No ano passado, alcançamos mais de 80 milhões de pessoas diretamente e mais de 791 milhões ao todo, incluindo conteúdos digitais, publicações e transmissões em rádio e TV.  Fundado em 1934, somos uma UK charity governada por Royal Charter, assim como um órgão público do Reino Unido. Cerca de 15% de nossos fundos são subsidiados pelo governo britânico.




APRESENTAÇÃO                                                                                                        

                                                                




realização

 



 APOIO DE MÍDIA