De 9 outubro a 3 novembro 2013
A 3M do Brasil, mantendo seu compromisso de debater e incentivar a produção artística contemporânea ligada às mídias digitais, a Elo3, idealizadora do projeto, novamente em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, realizam a IV Mostra 3M de Arte Digital. Nesta edição, Ficções Radicais constroem o eixo estabelecido pela curadora e artista midiática Gisela Domschke nos 20 projetos selecionados.
Segundo Domschke, a ficção é uma forma de narrativa que lida com eventos não (ainda) factuais, que nos permite explorar as possibilidades de nossos desejos, a fim de entender o que são hoje as limitações. “Isso ajuda a dar um passo para além da estrutura rígida de nossa forma de vida e olhar para as suas complexidades de uma certa distância”.
Para a quarta edição, a curadora traz Charles Csuri, artista norte-americano pioneiro da arte digital, com sua icônica obra Random War, 1967. Csuri capta o caos do campo de batalha através da geração de números aleatórios, que determinam a localização e o ângulo do desenho de um pequeno soldado verde na página impressa. O artista explora, através de sistemas matemáticos, uma nova idéia de forma, uma nova idéia de estrutura.
Outro pioneiro, o brasileiro Paulo Bruscky inicia a partir de 1970 pesquisas em suportes destinados à reprodução e circulação da imagem ou da informação, como o fax, o xerox, raio-x, a imprensa, os carimbos. Em um contexto de burocracia, de falta de ambiente institucional para a arte em sua cidade e de repressão do período de ditadura militar no Brasil, os trabalhos de Bruscky se apresentam como pequenas provocações, colocando o cotidiano à prova. Máquina de Filmar Sonhos (1977) é parte de uma série de inserções em classificados de jornal realizadas pelo artista. Bruscky anuncia a venda de uma máquina de filmar sonhos, com filmes (preto e branco ou colorido) e sonorizada, que possibilitaria ao comprador assistir a seus sonhos tomando café da manhã.
Em Drone Shadows, James Bridle agencia a materialização de uma tecnologia invisível que permite o controle da visão e da ação à distância. O que fazem exatamente essas máquinas voadoras robóticas – de helicópteros de brinquedos a tecnologia de armamento militar – não se sabe ao certo. Ao riscar no chão a caracterização fictícia dos drones, Bridle chama nossa atenção para uma tecnologia que, cada vez mais interconectada, permeia, de forma invisível, nossa sociedade contemporânea. O que escolheremos fazer com essa tecnologia é algo que depende de nossa capacidade de visualizá-las, para então a agenciarmos de acordo com nossos desejos.
O sul coreano Hojun Song, em Back to Program Ossi, contesta o fato de todos os programas espaciais serem dirigidos e desenvolvidos por governos ou forças militares. Por isso, criou “Ossi”, um satélite de uso individual que possibilita uma conexão entre o indivíduo e o universo, estimulando nossas fantasias. Para Song, é questão de tempo para que “Ossi” torne-se realidade. Também o fotógrafo paulista Marcelo Zocchio traz o espaço para o centro de sua obra, com a série Planetas, na qual registra nove viagens ficcionais interplanetárias. De cada “planeta” visitado, Zocchio exibe um auto-retrato e uma pedra trazida do local.
Em The Tsiolkovsky Trick, Sascha Pohflepp dispõe modelos de foguetes espaciais provenientes do 3D wharehouse do Google, dando corpo a uma visão particular da história da tecnologia. Em seu ensaio "Lagrangian Futures", Pohflepp explica que em 1903, Konstantin Tsiolkovsky "publicou um artigo científico intitulado "Investigação de aparelhos exteriores de foguetes espaciais", no qual provou que um objeto em propulsão poderia realizar o vôo espacial, se durante o lançamento perdesse partes de si mesmo".
Tuur Van Balen, Catherine Kramer e Steven Ounanian exploram as questões homem/ máquina em Gained in Translation, onde Angelina performa uma versão de Yesterday dos Beatles, cuja letra foi modificada através de diversas traduções feitas por programas de computador.
Policing Genes é uma obra de design-fiction, em que o inglês Thomas Thwaites imagina um cenário, onde os genes de plantas geneticamente modificados são controlados por um departamento da policia britânica especializado no policiamento das abelhas.
A dupla inglesa Semiconductor apresenta Worlds in the Making, uma série de trabalhos recentes que exploram paisagens vulcânicas e a geologia única das Ilhas Galápagos. Worlds in the Making (2011) é uma vídeoinstalação com três projeções simultâneas, dividida em sete capítulos. Tendo como ponto de partida a filmagem e animação de paisagens vulcânicas, rochas e minerais, e a utilização de técnicas científicas e dispositivos que o homem desenvolveu para dar sentido a esses elementos, este trabalho explora como o homem observa, experimenta e cria uma compreensão das origens do mundo físico que nos rodeia. O espectador é levado para um mundo que fica entre a ficção científica e a realidade científica.
O holandês Matthijs Munnik em sua instalação Citadels: Lightscape busca explorar uma esfera alucinatória dentro de nossos olhos através de efeitos estroboscópicos da luz. Citadels é uma nova máquina dos sonhos, onde uma camada de padrões vívidos cobre a realidade. A instalação permite ao observador investigar as infinitas complexidades produzidas dentro do próprio olho. A dimensão geométrica de cores puras, fractais, pixels, formas e formato deslumbrante.
Também da Holanda, os artistas Persijn Broersen & Margit Lukács, no vídeo Mastering Bambi, exploram e recriam o filme “Bambi”, clássico de Walt Disney, eliminando os seus personagens. O que resta é uma outra realidade, um deserto construído e carente, onde a natureza torna-se o espelho da nossa própria imaginação. A trilha sonora é de autoria de Berend Dubbe e Gwendolyn Thomas. Misturando e duplicando os sons, eles reformularam a música de “Bambi”, de tal forma que são reveladas as dissonâncias no filme.
Já o trabalho do inglês Justin Bennet transita entre as artes visuais, o audiovisual e a música, com foco específico no desenvolvimento urbano e na relação entre arquitetura e som. Para a mostra, ele cria um sound walk a ser experienciado nas ruas pelos visitantes, nos entornos do Instituto Tomie Ohtake.
O brasileiro Marcelo Krasilsic também apresenta um trabalho criado especialmente para esta edição da Mostra. #PHOFOAM é uma instalação performática híbrida, onde os participantes fotografam e são fotografados vestindo adereços de espuma e elásticos. As fotos são distribuídas no Instagram com o hastag #PHOFOAM. A performance explora as múltiplas dimensões do discurso social contemporâneo, e evoca referências diversas - do wearable da literatura sci-fi ao Parangolé de Helio Oiticica.
A dupla de fotógrafos suecos Inka & Niclas investiga paisagens naturais intocadas. Suas imagens causam estranheza através de interferências sutis, como a de um spray que tinge a paisagem retratada ou a simples presença de um visitante humano.
O norte-americano Golan Levin apresenta "The Free Universal Construction Kit" [Kit Universal de Construção Livre], uma coleção impressa em 3D de cerca de 80 blocos de montagem que permitem a total interoperabilidade entre dez populares brinquedos infantis de construção. Ao possibilitar que qualquer peça se encaixe com qualquer outra, o Kit incentiva novas formas de relações entre sistemas que eram fechados - permitindo um jogo construtivista radicalmente híbrido e a criação de projetos até então impossíveis.
De autoria da dupla Mario Ramiro e Gabriela Greeb, Rede Telefonia (2009) é uma peça sonora de 4 minutos e 33 segundos criada a partir das escutas e das gravações realizadas por Hilda Hilst nos anos 1970. Em sua casa, a escritora buscava comunicação com os mortos através de ondas de rádio. Consta que um espaço “vazio” entre duas estações era escolhido. Depois ela registrava o barulho, chamado de “ruído branco” em fita cassete: esse chiado seria o meio que os “espíritos” utilizariam para entrar em contato com o nosso mundo.
Ricardo de Castro propõe ao espectador experiências que visam o deslocamento do indivíduo para a abertura de novos espaços mentais, renovação de atitudes cotidianas, destruição de padrões e o redesenho de um pensamento livre. A obras, que trazem em si ideias de magia, ciclo, morte e renascimento, são de caráter relacional e, em alguns casos, acontecem em espaços públicos, visando compartilhar com o maior número de pessoas a energia elaborada no trabalho. A fotografia Totem Magia (2010) é um registro de uma ação que Ricardo realizou na Quebrada da Morte, no Deserto do Atacama, no Chile.
A instalação Blue Fungus é um projeto do estúdio Moniker, desenvolvido a partir de sua prática processual Conditional Design. O Conditional Design é uma abordagem que reflete as tendências da nossa sociedade contemporânea - sob a influência da mídia e das rápidas mudanças tecnológicas, nosso mundo, nossas vidas e a maneira como nos relacionamos uns com os outros são cada vez mais caracterizadas pela velocidade em estado de fluxo constante. Os visitantes recebem uma folha com quatro adesivos quando entram no espaço. Eles são autorizados a fixar os adesivos em algum ponto na exposição, de acordo com um simples conjunto de regras. Os padrões emergem porque as pessoas vão observar o que os visitantes anteriores fizeram e reagirão a isso. Em última análise os visitantes funcionam como um coletivo para formular uma imagem.
O trabalho sonoro Oráculo (2009) de Arnaldo Antunes remete à leitura de um oráculo. Em uma grande colagem, o espectador ouve trechos de textos de filosofia, fotonovela, convites, documentos, textos de reportagem e fragmentos de poemas. Como a entonação é a mesma, todas essas referências parecem fazer parte de uma única e mesma história.
Completa a exposição o objeto interativo Quando tudo o que aprendi não serviu para nada, a Mateo Velázquez in memoriam (2009), do paulista Fernando Velázquez, uma forte metáfora sobre as nossas buscas futuras.
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