A exposição de Hugo França no Instituto Tomie Ohtake, reúne três “Casulos”, peças em grandes dimensões, com mais de uma tonelada cada. O visitante poderá interagir com cada obra, experimentar o acolhimento e a textura das peças, esculpidas a partir de grandes raízes e troncos de madeira, e perceber o respeito à matéria original e a força do processo criativo, aspectos fundamentais da produção do designer.
Em sua produção, iniciada nos anos 80, França utiliza resíduos florestais de árvores queimadas ou condenadas pelas intempéries, cujo destino seria o descarte natural. O Pequi Vinagreiro, sua principal matéria prima, é natural da Mata Atlântica e atinge até 40 metros de altura com tronco de até 2,5 metros de diâmetro. Esta árvore - que pode viver até 12 séculos - possui uma resina impermeabilizante resistente ao tempo e à umidade, e é utilizada, há séculos, pelos índios pataxós para fazer suas canoas. Recentemente, em função da escassez deste resíduo, devido ao desflorestamento cada vez mais voraz, Hugo França passou a trabalhar também com outras madeiras como a Imbuia e Braúna, espécies típicas da floresta tropical brasileira.
Os Casulos inéditos, produzidos nos últimos três anos, formam sua mais recente série e representam a síntese da experiência que busca propor em todas as suas peças: um contato “imersivo” do homem com a natureza. Integra ainda a exposição um ensaio fotográfico de Andrés Otero, realizado no sul da Bahia, região de onde vem a matéria-prima da obra de Hugo França, além de imagens que retratam as várias etapas do trabalho do artista. Madeiras de árvores caídas e abandonadas sempre ganham uma segunda vida nas obras esculpidas pelo premiado designer. A forma em seus trabalhos reafirma o protagonismo da natureza, a beleza em cada pedaço de madeira encontrado, em geral, enormes toras da Mata Atlântica da região de Trancoso, no sul da Bahia. Assim, mesas, bancos, cadeiras, espreguiçadeiras tornam-se peças únicas, nunca replicáveis. Hoje Hugo França é reconhecido no mundo todo por suas “esculturas-mobiliárias”, nome utilizado primeiramente pela crítica Ethel Leon, que o designer faz questão de creditar.
hugo frança
Nascido em Porto Alegre em 1954, Hugo França começou seu ofício no sul da Bahia, onde viveu muitos anos. Hoje divide o tempo entre a região baiana e seu ateliê em São Paulo. O autor do ensaio fotográfico, o gaúcho Andrés Otero, vive entre Milão, Lausanne e São Paulo e ficou reconhecido pelos registros fotográficos na área de arquitetura, design e iluminação. Contribui regularmente para as revistas "Interni", "Domus", "Abitare", "Casabella", "L'Architecture d'aujourd'hui", "Surface”, entre outras.