Tomie Ohtake - Desenho; Projeto; Espaço

De 4 setembro a 18 novembro 2014

A realização das obras públicas de Tomie Ohtake traz uma pergunta que pode soar como brincadeira de criança ou cena de desenho animado: como é que uma linha desenhada no ar transforma-se em matéria suspensa no espaço? Desde a década de 1980, Tomie Ohtake traz aos espaços públicos e áreas de convivência de diversas cidades formas que remetem aos elementos pictóricos de sua
produção plástica. Nas pinturas e gravuras, esses elementos aparecem como formas e cores movimentadas por gestos precisos, que se transformaram e recombinaram tantas e tantas vezes em suas mais de seis décadas de produção. Já nos espaços de convívio, essas formas são convertidas em quilos ou toneladas de ferro, concreto, aço, pastilhas de vidro ou o que for necessário; são volumes que podem alcançar escala monumental, sem nunca aparentar o peso que de fato têm. 

Para fazer esculturas e painéis de média e grande escala, a artista adapta o mesmo processo que aplicou em grande parte de suas pinturas e gravuras. Cria esboços, colagens e maquetes rapidamente, com tamanho diminuto e materiais leves; molda-os com as mãos, sem comprometer-se em demasia com a resistência que os materiais de fato têm: manipula gestualmente as formas coloridas com o mesmo desprendimento com que recombina cores e texturas nos estudos para obras pictóricas. Depois, cabe à colaboração com técnicos e engenheiros a tarefa de tornar possíveis esses modelos imaginativos. Para isso, são empregados sofisticados métodos de tradução da forma delicada dos modelos às peças usinadas ou moldadas nas oficinas. Elaboram-se cálculos intrincados para as fundações, espessuras e armaduras de modo que a figura delineada sofra as mínimas deformações em sua tradução ao espaço concreto. Do singelo arame torcido pela ponta dos dedos da artista alcança-se a peça metálica que envolve nosso corpo e parece pesar ainda pouco mais que algumas gramas.

Nesta exposição, escolhemos algumas das dezenas de obras realizadas nas últimas três décadas para olhá-las com maior atenção, observar suas relações com seu contexto e refletir sobre os gestos feitos pela artista e as maneiras pelos quais foram ampliados à dimensão dos lugares de convívio. Se, ao final, quisermos procurar analogias na arquitetura ao modo como Tomie Ohtake relaciona desenho e espaço, poderemos concluir que ela talvez esteja mais próxima às renovadas táticas projetuais da geração de Frank Gehry e Zaha Hadid, que desde os anos 1990 encontraram nos computadores maneiras de aproximar  a espontaneidade do desenho e a operatividade da construção civil.

Ou então, ao contrário, podemos voltar àquela primeira analogia da criança que fantasia desenhar e colorir o espaço, um gesto muito mais antigo e instintivo que qualquer estilo arquitetônico, que se realiza nas obras de Tomie Ohtake como um sereno elogio à mão e à imaginação.

Paulo Miyada



                         





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