Entre quatro paredes: quartos na história da arte

Por Luciara Ribeiro

            Das cavernas aos lares modernos, a casa é considerada a primeira construção humana. Não é por acaso que, a arquitetura, que nasce a partir dessa ocupação, é vista pela história da arte ocidental como a primeira das artes, a morada de todos, dos humanos e das demais artes. Porém, e infelizmente, a casa virou um produto do capital e seu direito um privilégio. Sabemos hoje que estar e ocupar um ambiente doméstico não é uma realidade para todos, e a quarentena escancarou isso. Enquanto famosos exibem em suas redes sociais casas luxuosas, apenas na cidade de São Paulo, cerca de 24.344 pessoas não possuem um teto para viver¹, e outras tantas vivem em condições precárias nas periferias.

          Afirmar o direito do morar como destinado a todos se faz necessário. Partindo desse contexto, em que a casa é um espaço essencial para o controle do impacto da pandemia do Covid-19 e um tema de debate sobre nossa organização social hoje, toma-se como interesse abordar aqui as relações com a domesticidade. Neste exato momento, talvez, as casas nunca tenham sido tão habitadas. O que, antes, para muitos trabalhadores, havia sido reduzido a apenas o local do dormir entre um dia e outro de trabalho, é agora o seu local de morar, trabalhar e descansar. Com mais tempo em casa, as relações com nossos lares mudaram. Nas redes sociais, encontramos relatos de pessoas que dizem aproveitar esse período para revisitar lembranças, redecorar a casa, criar maneiras de consumir e gastar menos, serem solidárias, etc.

           Tendo a domesticidade como eixo, lanço aqui um olhar especial para um dos cômodos presentes nas nossas moradias: o quarto. Espaço que acolhe medos, inseguranças, sonhos e desejos. No quarto é onde buscamos proteção, amparo; onde se comparte relações amorosas e sexuais; se expressa afetos e carinhos; se sente saudade e solidão, e também onde se esconde violências, agressões e até mortes.

         Os quartos possuem muitas histórias, e isso foi abordado pela historiadora francesa Michelle Perrot², em sua obra A história dos quartos.  Perrot traz a público as intimidades deste conhecido cômodo. A autora nos conta que, a origem desse espaço flerta com o real e o imaginário, pois, como já dito, muitas das nossas emoções e sensações estão atreladas a ele. A autora demonstra ao longo da sua obra que o quarto não é necessariamente uma construção física, ele pode ser definido por outras noções espaciais, como um objeto ou mobiliário. Uma cama, uma rede, uma esteira de palha no chão, um papelão ou um tapete podem dar existência a um quarto.

        Mas o quarto nem sempre é o espaço dedicado ao dormir. É comum atribuirmos tal nomenclatura também a pequenos cômodos localizados em uma casa e que servem para guardar materiais diversos. Um exemplo é o uso do termo “quarto de despensa”, ou, o famoso “quarto de bagunça”.  Geralmente, esses são espaços nas casas onde se colocam objetos que não queremos deixar a mostra, como no caso dos alimentos ou de utensílios fora de uso. Foi partindo desse conceito que, Carolina Maria de Jesus deu título ao seu primeiro livro, Quarto de despejo, lançado em 1960. Nele, a escritora denuncia em forma de diário as atrocidades sociais e políticas presenciadas por ela na cidade de São Paulo. Para Carolina, o “quarto de despejo”, daquela que se tornava a principal cidade da América Latina, eram as periferias, regiões que cresciam às margens dos seus centros. Lugares para onde foram direcionados quem a cidade “não queria”, ou que desejava esconder. O descaso da política governamental, tanto naquele período como nos dias atuais, além de oficializar a existência de tais regiões, potencializa suas pobrezas, misérias e violências quando varrem para debaixo do tapete as desigualdades e problemas estruturais do país.

           Carolina, que trabalhou como empregada doméstica, também conheceu um outro tipo de quarto dedicado a esconder aqueles que não devem ser vistos, o famoso quarto de empregada. Cômodo naturalizado na arquitetura brasileira, além de segregar, representa a continuidade dos hábitos coloniais e escravistas. Estreito, pequeno, pouco ventilado, inóspito e escuro, esses são alguns adjetivos geralmente atribuídos a ele. Localizados próximos às cozinhas e lavanderias, demonstrando que é aquele o lugar que patrões e patroas da elite dedicam às profissionais que limpam suas sujeiras. Tem sido comum durante esse período de quarentena, celebridades exibirem fotos e depoimentos em suas redes sociais afirmando estarem, pela primeira vez, limpando suas casas, parecendo não terem vergonha de anunciarem tamanho atraso. Aqui Não Entra Luz, documentário dirigido por Karoline Maia, deixa explicito as relações de poder, classe e étnico-raciais existentes no âmbito do trabalho doméstico no Brasil. Além de traçar relações históricas com a arquitetura escravista, a diretora apresenta semelhanças entre os corpos que habitavam as senzalas e os que vivem hoje em tal “quarto”: mulheres negras e pobres. Demonstrando desse modo que a cor das mãos que limpava a Casa Grande continua a ser a mesma das que limpa as casas da elite.

          Infelizmente, a desigualdade não é uma realidade apenas na arquitetura das cidades e casas brasileiras. O artista sul-africano Zwelethu Mthethwa, em sua série fotográfica Interiores, demonstra que o “morar” também apresenta disparidades altíssimas na África do Sul.  Em suas fotografias, Mthethwa retrata os interiores de diversas casas localizadas nos townships, nome atribuído pelo regime de apartheid às regiões reservadas às pessoas não-brancas. Sua maioria composta por casas pequenas, construídas com madeira e chapas de aço, onde quarto, cozinha, sala e banheiro fazem parte do mesmo cômodo, assim como em diversas casas das periferias brasileiras. País marcado por um sangrento processo colonial, escravista e segregacionista, os townships revelam a manutenção das desigualdades na África do Sul, mesmo após 25 anos do fim do regime de Apartheid.

        Apesar do trabalho crítico de Mthethwa ter contribuído para debates importantes nas artes sul-africanas, não podemos deixar de mencionar aqui que ele perdeu a credibilidade enquanto artista, ao ser condenado em 2017 pela morte de Nokuphila Kumalo, uma jovem que trabalhava como profissional do sexo e que foi brutalmente assassinada. O país que é considerado um dos mais desiguais do mundo, também é um dos mais violentos e difíceis para as mulheres³.  Câmeras de segurança e testemunhas possibilitaram o reconhecimento dele como o autor de tal barbaridade, sendo condenado a 18 anos de prisão. Atualmente, Mthethwa cumpre pena na prisão de segurança máxima Pollsmoor, uma das mais conhecidas no país, e por onde passaram ativistas anti-apartheid, como, Nelson Mandela, Walter Sisulu e Ahmed Kathrada.

         Talvez, em Pollsmoor, Mthethwa encontre semelhanças entre a realidade dos “quartos” dos townships que ele fotografava com a cela onde atualmente dorme. Essa relação não é mera coincidência. Segundo o pensador Michel Foucault, a arquitetura é um aliado dos regimes de opressão, sendo possível traçarmos relações diretas entre determinadas construções criadas para o reforço e controle social que potencializaram desigualdades.

           Mikhael Subotzky, outro artista sul-africano, em trabalho realizado entre 2004 e 2005, retratou a famosa prisão de Pollsmoor, dando destaque aos “quartos” dos seus habitantes. Celas abarrotadas, ocupadas por maioria masculina, pobre e não-branca, denunciam como o sistema prisional retira individualidades, subjetividades e privacidades, e essa ausência da intimidade é um dos elementos que transforma a população carcerária em uma massa única e homogênea.

             O quarto íntimo e secreto, além de não ser uma realidade para muitos, deve também ser questionado para além do espaço individual de proteção. É exatamente por ser um espaço privado que ele pode se tornar um lugar de poder. Nele, é possível ocultar agressões, ameaças e violências. É nele que muitas mulheres são violentadas, às vezes por seus próprios companheiros. Recentemente saíram pesquisas que demonstram que houve aumento nos números de violência doméstica durante o período de quarentena. Só na cidade de São Paulo, o aumento foi de 30% nos casos denunciados, o que evidencia que, nem dentro de casa, as mulheres estão seguras. Expor tal situação não é fácil, milhares de mulheres sofrem em silêncio, sem apoio da família e de políticas públicas eficazes. Há cerca de trinta anos atrás, uma das vítimas de violência doméstica foi a artista estadunidense Nan Goldin. Em 1984, ela realizou um autorretrato denunciando a agressão realizada pelo seu antigo companheiro, Brian, um ex-oficial da marinha. A fotografia Um mês após ser agredida revela a constância e força dos ataques, confirmando que relações amorosas nem sempre são boas para as mulheres.

            As desigualdades de gênero precisam ser combatidas diariamente. Na história da arte, diversas artistas lutam por essa reparação. Um dos debates sobre o tema tem sido em torno do nu, um dos gêneros mais explorados na arte ocidental. Corpos femininos, mãos masculinas. Os nus, que além de terem o corpo da mulher como o mais representado, também têm o ambiente do quarto como um dos principais cenários. Como crítica a isso, a artista marroquina Lalla Essaydi, criou a série As mulheres do Marrocos, um título que faz alusão a obra As mulheres de Argélia, do pintor francês Eugène Delacroix. Essaydi recria algumas cenas das chamadas pinturas do Orientalismo europeu, mas buscando eliminar aquilo que ela considera como elementos exotizantes e sexualizantes. A artista coloca mulheres marroquinas como protagonistas, veste seus corpos, elimina as cores vibrantes de seu entorno e escreve sobre as imagens. Os textos apresentados por ela representam vozes dessas mulheres e uma possibilidade de reivindicar criticamente o espaço da autoria feminina nas artes.

           Desconstruir estereótipos reforçados em imagens e narrativas coloniais, envolvendo o espaço do dormir, também foi o objetivo do curador Raphael Fonseca, com a exposição Vaivém, realizada em 2019, dedicando-se exclusivamente a um elemento do dormir, a rede. A exposição que circulou por diversas cidades brasileiras conectou obras, linguagens, períodos, origens e regiões em torno de tal objeto. Em uma narrativa não cronológica, Fonseca, almejou desconstruir estereótipos a respeito das culturas indígenas brasileiras.  Uma das obras que ganhou destaque na exposição foi a pintura Nepũ Arquepũ (“Rede Macaco”), do artista contemporâneo Duhigó. Nessa obra, vemos o relato pictórico da cerimônia dedicada ao nascimento na sociedade amazonense Tukano.  A pintura, que apresenta um cômodo construído em madeira, com colunas a mostra e diversas redes amarradas, nos conta sobre o momento em que duas mães levam os seus filhos, recém-nascidos, para a consagração da vida.  Nesta pintura, Duhigó, apresenta o espaço do sagrado para a cultura Tukano e a presença do elemento do dormir junto a ele, demonstrando que a rede é também um importante objeto no cotidiano e na cosmologia de tal sociedade. 

             Mas talvez o quarto mais conhecido da história da arte seja mesmo o do artista holandês Vicent van Gogh. Uma das mais emblemáticas pinturas de quartos na história da arte ocidental, o conjunto formado por três pinturas representa o espaço de intimidade de Van Gogh em uma pensão em Arles, na França. Um quarto simples, com poucos móveis, uma cama, duas cadeiras e uma escrivaninha. Na parede, algumas roupas e pinturas penduradas. Acredita-se que, depois de pintar a primeira tela, a pedido de seu irmão Theo, Van Gogh decidiu pintar mais duas versões do espaço. A pintura que era para ser compartilhada com o irmão, hoje faz parte do conhecimento pictórico e imagético ocidental.

             Muitos quartos e camas vieram depois de Van Gogh e se tornaram conhecidos na história da arte, um deles foi o de Frida Kahlo. A artista mexicana teve sua vida marcada por uma lesão na coluna, em decorrência de um acidente durante a adolescência. Frida passou parte da sua vida presa a uma cama e tal mobiliário se tornou uma extensão do seu corpo. A artista representada esse sentimento em diversas pinturas, como em O sonho (A cama). Nela, Frida se retratou dormindo em sua cama leito, na qual, notamos na parte superior, um esqueleto humano, acordado, segurando flores e com arames amarrados nas pernas.  Essa foi a representação da morte e do inevitável fim do ciclo vital que a artista já previa. Uma imagem difícil de ver e que transpassa os sentimentos vividos por Frida naquele momento. 

              Maria Auxiliadora, artista brasileira que produziu entre as décadas de 1960 e 70, também vivenciou a espera da morte em sua cama. Em Última unção, pintura de 1973, um ano antes da sua morte, ela se retratou em uma cama recebendo alimento na boca pelas mãos de um sacerdote religioso, enquanto, ao seu redor, amigos rezam e choram. A artista que faleceu aos 39 anos, em decorrência de câncer, demonstra o quão intenso foi esse período de sua vida.

              O artista cubano-estadunidense Felix González Torres também refletiu sobre a dor e o vazio deixado pela morte. A fotografia Sem título (outdoor de uma cama vazia) expõe uma cama de casal vazia, com lençóis e travesseiros levemente desarrumados, expressando o sentimento de ausência após a morte do seu amado companheiro. Essa imagem foi impressa em grandes dimensões e exibida em diversos outdoors da cidade de Nova Iorque. A ação realizada em 1991 virou referência para o ativismo LGBTQI+ e uma “bandeira” na luta pela visibilidade de pessoas soropositivas, já que tanto Felix como o seu companheiro faleceram em decorrência da AIDS e tiveram suas vidas atravessadas pelas visões reducionistas acerca da doença. Ao realizar tal obra, Felix politizou a cama, o afeto e o direito de amar. 

           Assim como González Torres, a jovem artista brasileira Jéssica De Souza Luz, que foi uma das finalistas do prêmio EDP de artes em 2018, também viu a cama como o móvel que marca a intimidade de um casal e que revela dores após o fim da mesma. Nas obras Partidas, Entidade Casal, Corpos Distantes ainda atritam e Isso pode ser o que a gente quiser, a artista apresenta o processo artístico e reflexão vivenciados por ela após o fim de um relacionamento longo. O conjunto, que foi exibido na exposição realizada no Instituto Tomie Ohtake, em parceria com o Instituto EDP, refere-se a uma instalação composta por três elementos: a metade de uma cama de casal, uma vídeo-performance, uma parede inacabada realizada com blocos de argila e algumas caixas de mudança empilhadas com frases em suas laterais. Em Partidas, De Sousa Luz demonstra a relação dúbia que viveu com a antiga cama do casal. Por um lado, o móvel virou o símbolo da ausência, do vazio e da saudade, e por outro, o retrato da perda de individualidade sentido por ela após tanto tempo na vida a dois. Como parte do processo de desvincular-se da antiga relação e do corpo do companheiro, Jéssica cerrou a cama ao meio e levou uma de suas metades para o espaço expositivo, incorporando desse modo um momento pessoal em sua produção, e utilizando-o como parte do redescobrimento do seu “eu”, dos seus desejos e quereres.

         As relações amorosas e o quarto também foram elementos abordados pelo artista nigeriano Oladélé Ajiboyé Bamgboyé. Na série fotográfica Eine Reise (uma viagem), realizada em 1991, ele apresenta diferentes momentos da convivência de um casal. Nas imagens vemos um quarto, com uma cama centralizada, onde uma pessoa está deitada e coberta por um lençol, enquanto outra pessoa encontra-se de pé, e pela sequência de fotos, percebe-se que ela circula ao redor da cama.  A pouca nitidez, a cama levemente bagunçada, o acúmulo de roupas no ambiente e a movimentação dos corpos acentuam a sensação de confusão, instabilidade e distanciamento entre o casal. Sabendo que Bamgboyé costuma abordar em seus trabalhos temas relacionados aos relacionamentos amorosos e às masculinidades, é provável que nessa série o artista esteja questionando, assim como Jéssica De Souza Luz, os elementos psicológicos envolvidos nas relações amorosas e de como a cama e o quarto refletem isso.

           Não é fácil viver junto, mas também não é fácil viver sozinho. A artista sul-coreana Ji Hyun Kwon, na série Self, levou a público os questionamentos diários que ela fazia a si mesma ao acordar. Durante dias, ainda na cama, antes mesmo de fazer qualquer coisa, a artista se fotografava. As imagens revelam olhos ainda sonolentos, entre o desejo de seguir na cama e o dever de levantar. Nem sempre começar um novo dia é fácil, e isso fica explícito nas imagens de Ji Hyun Kwon. Percebe-se que, em alguns dias, a artista se atreveu a olhar para a câmera, mas em outros, ela se escondeu como se desejasse congelar o tempo. O que Ji Hyun Kwon pensou em cada um daqueles dias? O que cada ser humano pensa ao acordar? O que pensamos sobre o ontem, o hoje e o amanhã? A resposta é individual, mas será sempre presenciada por uma testemunha ocular: nossos quartos, nossas camas, redes, tapetes, esteiras, etc.

               Saber mediar as relações, os desejos e as adversidades nesse momento é importante, e o quarto pode ser um espaço aliado nisso. As obras apresentadas aqui demonstram as complexidades desse cômodo, e que há uma constante reflexão em torno dele. Talvez seja o quarto um cenário para a criação de produções contemporâneas neste momento, talvez ele revele inquietudes e projeções para além de suas paredes e objetos. Talvez tenhamos que aprender mais com os quartos. Especulações à parte, deixemos que o tempo diga o que o futuro nos reserva e de como isso reverberará nas artes. Para finalizar, desejo que a humanidade aprenda algo com essa experiência, que os medos e ansiedades que acentuam nossos corpos não sejam suficientes para aumentar nossos individualismos, mas que potencializem a criação de novos amanhãs.

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[1] Dados de acordo com o censo 2019, realizado pela Prefeitura de São Paulo.
Mais informações em: http://www.capital.sp.gov.br/noticia/prefeitura-de-sao-paulo-divulga-censo-da-populacao-em-situacao-de-rua-2019 .
Consulta realizada em 28/04/2020. 

[2] PERROT, Michelle. História dos Quartos, São Paulo, Paz e Terra, 2011.

[3] De acordo com o relatório global de violência contra mulheres realizado pela ONU Mulheres:
https://evaw-global database.unwomen.org/fr/countries/africa/south-africa. Consulta realizada em 01/05/2020.

[4] FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir, São Paulo, Editora Vozes, 2014.

[5] Dados de acordo com o Núcleo de Gênero e o Centro de Apoio Operacional Criminal (CAOCrim) do Ministério Público de São Paulo (MPSP). http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=22511423&id_grupo=118 . Consulta realizada em 01/05/2020.  

Crédito da imagem: Jéssica Luz, Partidas, 2018, Escultura. Foto Ricardo Miyada.