Os educadores do Núcleo de Cultura e Participação fazem um trabalho de pesquisa e busca de referências antes de cada exposição. O trabalho preparatório para a mostra 'Os muitos e o um: arte contemporânea brasileira' envolveu estudos acerca da produção artística e do contexto político, social e econômico brasileiro do início do século XX até os dias atuais, bem como os diálogos internacionais e as influências vindas de outros países. Com o intuito de dividir as referências encontradas e a pesquisa construída, os educadores realizaram um curso de arte brasileira para professores, com participação gratuita, nos dias 16, 23 e 30 de setembro.
Diante da impossibilidade de abordar com detalhamento e profundidade 60 anos de arte brasileira em apenas três encontros, os educadores optaram por fragmentar o conteúdo e escolher alguns assuntos e acontecimentos principais que pautaram a produção artística no Brasil. Assim, com o objetivo de construir um terreno conceitual comum e estimular a pesquisa autônoma por parte dos professores participantes, o curso foi dividido em cinco aulas com recortes simultaneamente cronológicos e temáticos.
Modernismo e modernidade no contexto brasileira
André Castilho dividiu a apresentação em três momentos principais da construção de ideias de modernidade e modernismo no Brasil. Iniciou o percurso pelo contexto social, político e econômico do final do século XIX e início do século XX, com especial atenção às questões relativas ao liberalismo e à escravidão. Em seguida, abordou a produção artística e as mudanças ocorridas na sociedade brasileira dos anos 1930. Por fim, André apresentou a produção dos anos 1950, já introduzindo a aula posterior e as questões relativas ao concretismo e ao neoconcretismo.
Racionalismo: concretos e neoconcretos
A aula proposta por Lara Teixeira e Melina Martinho teve como foco a discussão de aspectos filosóficos do racionalismo aplicados à educação e à arte e, posteriormente, os preceitos da produção concretista e neoconcretista. Construídos os dois caminhos de reflexão, as educadoras abordaram a intersecção entre a filosofia racionalista e a abstração geométrica.
Anos 60 e 70: rupturas e transformações
A terceira aula do curso, desenvolvida por Anike Laurita e Divina Prado, ensejou dar conta da produção artística brasileira entre os anos 1960 e 1970, dando ênfase ao contexto político específico após o Golpe de 64 e considerando as questões econômicas e sociais dele decorrentes. Para a construção de um terreno conceitual comum, a aula teve início com a apresentação do panorama da pesquisa artística em âmbito internacional, mencionando o Novo Realismo, a Arte Pop, o minimalismo e a arte conceitual. Por fim, foi apresentada a produção brasileira dividida em três momentos principais, a arte combativa do final dos anos 1960, a crítica velada após a instauração do AI-5 e o hermetismo conceitual de fins da década de 1970.
Geração 80
Felipe Tenório e Steffânia Prata abordaram a produção artística que marcou os anos 1980 e o contexto cultural, político, social e econômico do Brasil. A partir da análise das principais exposições que legitimaram o fenômeno que ficou conhecido como retorno à pintura, foi possível vincular as questões referentes à produção dos jovens artistas da chamada Geração 80 ao contexto específico que a engendrou.
Arte brasileira: anos 90 e 2000+
A última aula do curso, encabeçada por Juliana Nersessian e Pedro Costa, abordou a produção mais recente, dos anos 1990 até os anos 2000. O encontro começou com uma contextualização sobre o cenário político e cultural dessas décadas. Foram abordados, também, alguns conceitos aplicados à contemporaneidade, como pós-colonialismo, estética relacional e hipermodernidade. A parte da aula direcionada às artes foi baseada na tese de mestrado A arte nos anos 2000 no contexto pós-utópico, de Luisa Duarte. Juliana e Pedro explicaram o conceito de contexto pós-utópico e discutiram a maneira como ele influencia a produção artística recente.
Atividade complementar – Visita e ateliê
Como atividade complementar ao curso, no dia 07/10 os educadores realizaram uma visita à exposição Os muitos e o um: arte contemporânea brasileira seguida de atividade em ateliê.
A visita buscou contemplar as questões abordadas no curso, valendo-se das potencialidades da exposição. A atividade em ateliê foi desenvolvida especificamente para essa ocasião, pensando na atuação dos professores e na criação de possibilidades de articulação entre a arte contemporânea e os processos pedagógicos. Assim, foi desenvolvido um ateliê cujo intuito era a criação de propostas de ateliês.
Foram selecionados diversos tipos de material, desde os mais convencionais até os mais esdrúxulos, e o espaço foi dividido em quatro áreas de trabalho relativas a recortes cronológicos específicos - década de 1950, décadas de 1960-70, década de 1980 e década de 1900 até anos 2000. Os participantes, organizados em pequenos grupos, criaram propostas de atividades que posteriormente seriam experimentadas por professores de outros grupos. Ao final da atividade, os professores e educadores trocaram impressões sobre as atividades e discutiram o processo.
O Curso de arte brasileira para professores, bem como outras atividades do Instituto Tomie Ohtake, cria espaços de debate e estreita laços entre professores e instituição que podem ser explorados de diversas maneiras, tanto no que tange à participação dos professores nas atividades propostas pelo Núcleo de Cultura e Participação quanto às possibilidades de realização de parcerias e trabalhos conjuntos. Além disso, fez parte da concepção do curso a ideia de que a arte contemporânea brasileira, não obstante a riqueza bibliográfica que a cerca, é uma história que está em um processo constante de construção e reconstrução cujo substrato está justamente nos espaços vivos de debate e diálogo.